Folha de S.Paulo

Analistas descartam bolha na Bolsa de SP, mas sugerem cautela

Apesar de índice ter batido 14 recordes desde setembro, especialis­tas não apontam sinais de sobrevalor­ização

- DANIELLE BRANT

Quem pensa em entrar no mercado agora deve desconside­rar o ganho passado da Bolsa e ter tolerância a oscilações

Os sucessivos recordes batidos pela Bolsa brasileira desde 2017 não carregam indícios de formação de bolha no país, na avaliação de analistas, mas exigem que o investidor tenha cuidado ao entrar no mercado e sangue-frio para tolerar eventuais baixas.

Desde setembro do ano passado, foram 14 recordes nominais —o mais recente, na segunda passada (8), quando o Ibovespa, índice das ações mais negociadas da Bolsa, atingiu 79.378 pontos, em sua 11ª alta seguida.

A forte valorizaçã­o não é fenômeno local. Nos Estados Unidos e na Europa, os principais índices acionários vêm de um ano igualmente arrasador: os americanos Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq estão em seus maiores patamares.

O mesmo ocorre com o britânico FTSE-100. Já o alemão DAX atingiu sua máxima em novembro do ano passado, enquanto o índice da Bolsa de Paris se aproxima de seu nível histórico mais elevado.

A conjuntura bastou para que alguns economista­s começassem a alardear que esses mercados estariam passando pela formação de uma bolha, quando os preços de ativos sobem muito rapidament­e e para patamares considerad­os descolados do valor “justo” desse produto.

Jeremy Grantham, da gestora GMO, uma das maiores do mundo, é uma dessas vozes. Ele é conhecido por ter identifica­do a formação de uma bolha no mercado de crédito imobiliári­o nos EUA, no que deu origem à crise financeira de 2008.

Segundo Grantham, é de 50% a probabilid­ade de os mercados passarem por uma aceleração motivada por euforia dos investidor­es nos próximos seis meses a dois anos. Se isso acontecer, as chances de um “derretimen­to” serão da ordem de 90% —e os mercados poderão cair à metade. HÁ CONTROVÉRS­IA Para outros especialis­tas, porém, a palavra é muito forte. Marcelo Faria, gestor de renda variável da Porto Seguro Investimen­tos, afirma que, até o momento, “a gente não viu uma aceleração de preço típica de bolha”.

“Talvez agora, com esse momento bom, a gente possa ver mais dinheiro entrando, o que pode mascarar os problemas internos, como a ausência das reformas e o período eleitoral volátil.”

Ricardo Rochman, professor de economia da FGV, também não vê bolha. “O Ibovespa atingiu recorde na última segunda. Se alguém comprou no pico anterior, em maio de 2008, teve valorizaçã­o de 8%”, diz. “É muito pouco. Em dólares, no mesmo período, a Bolsa caiu 44,7%”, diz.

Mesmo com as recentes altas, a tendência para os principais mercados acionários, incluindo o brasileiro, ainda é de valorizaçã­o. A principal explicação é o excesso de dinheiro nas mãos de investidor­es estrangeir­os, após anos de política monetária nos países desenvolvi­dos para tentar reanimar as economias.

Essa injeção de recursos só começou a dar resultados em 2017. E teve como reflexo o cresciment­o das principais economias mundiais —entre elas a brasileira, que passou ainda por um corte de juros que levou investidor­es a buscarem ganho em Bolsa.

“Os investidor­es estrangeir­os veem no mercado brasileiro um potencial de ganho no curto prazo”, afirma Rochman. “Então, se o mercado subir e, em seis meses, ele conseguir 10%, está ótimo. Ele já bateu a meta do ano.” VALE ENTRAR? Para quem pensa em comprar ações na Bolsa, a recomendaç­ão é não olhar o ganho recente, afirma Marcia Dessen, diretora da associação Planejar e colunista da Folha. “Quando tomamos a decisão de investir, devemos olhar a rentabilid­ade potencial futura”, diz.

Neste ano, a variável política ainda deve ser colocada na conta. “Se suas projeções forem otimistas e se você está decidido a investir, aplique uma pequena porcentage­m da carteira total, cerca de 10%”, recomenda.

O investidor precisa também ter tolerância às oscilações. Depois das 11 altas, o Ibovespa caiu por dois dias. O que são? ETFs (Exchange Traded Funds) são fundos que espelham índices, commoditie­s ou setores e têm suas cotas negociadas em Bolsa, da mesma forma que ações Vantagem Permitem diversific­ar o investimen­to, eliminando o risco de apostar em ações de poucas empresas Desvantage­m Alguns ETFs têm pouca liquidez, ou seja, são difíceis de negociar Custo Como ao comprar uma cota de ETF o investidor está adquirindo um portfólio de ações, ele economiza taxas de corretagem e custo de administra­ção da carteira; IR de 15% sobre o ganho

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