Folha de S.Paulo

Facções impulsiona­m mortes em áreas turísticas do litoral do RJ

Maior poder bélico do tráfico e desemprego explicam aumento da violência em Angra dos Reis

- LUIZA FRANCO ENVIADA ESPECIAL A ANGRA DOS REIS São Pedro da Aldeia Armação dos Búzios Iguaba Grande Araruama Saquarema Arraial do Cabo Cabo Frio

Principais afetados são os moradores de favelas, que hoje representa­m 34% da população de Angra

A viagem de carro do Rio de Janeiro até Angra dos Reis pela estrada Rio-Santos tem algumas das vistas mais bonitas do Estado. Bordejando a costa do alto das montanhas, à esquerda está o mar, e à direita, a encosta do morro. À medida que o município de Angra se aproxima, passa-se a ver, de um lado, baías, praias e ilhas; do outro, pontos de ônibus pichados na lateral com as siglas “CV” e “TCP”.

As pichações são referência­s às facções Comando Vermelho e Terceiro Comando Puro, as duas maiores do Estado e que vêm expandindo sua presença no interior do Rio.

Na tendência nacional de recrudesci­mento da violência no interior dos Estados, Angra dos Reis e a região dos Lagos —Cabo Frio e Búzios, por exemplo— têm visto aumento de mortes violentas e outros crimes.

O problema afeta principalm­ente os moradores das favelas, as quais cresceram muito nas últimas duas décadas. De vez em quando, vitima turistas também.

Angra, que era mais conhecida por suas praias e mansões, tem chamado a atenção por cenas rotineiras na Região Metropolit­ana do Rio, mas inéditas por esses lados: crianças deitadas no chão das escolas para se proteger de tiroteio, explosão de caixas de bancos, traficante­s armados com fuzis na beira das favelas, de olho em quem chega e em quem sai.

Há particular­idades da região. Nos últimos dois meses, duas vezes criminosos explodiram caixas eletrônico­s e depois fugiram pelo mar. No entanto, o que acontece lá é o que se vê na capital e no resto do Estado: facções criminosas mais bem armadas com disputas internas por poder e com outras facções por controle de território, diz a polícia.

A violência nas favelas da cidade está em seu pior patamar, e não é de hoje. No Mapa da Violência de 2016, com dados de 2015, a cidade já era a 17ª do Estado em proporção de mortes por arma de fogo por 100 mil habitantes.

A taxa era de 29,6. Até novembro de 2017, 153 pessoas haviam morrido de forma violenta na cidade, quase o total de 2016 (158), ano que registrou a maior quantidade dessas mortes desde o início da série histórica, em 2003.

Segundo o delegado responsáve­l pela área, Bruno Gilaberte, a maior parte dessas vítimas era ligada ao tráfico. Não há policiais entre elas, mas as mortes decorrente­s de oposição à intervençã­o policial —ou seja, o número de pessoas mortas pela polícia— explodiu este ano.

Foram 26 até novembro. Antes disso, o número anual havia variado entre zero, em 2010, a 15, em 2015.

Sendo assim, os principais afetados são os moradores de favelas, que hoje representa­m 34% da população da cidade.

“Fico nervoso pela minha filha, que tem três anos. De modo geral, não é um ambiente bom para criar uma criança, mas o que mais me dá medo é bala perdida”, diz um morador da favela do bairro do Frade, um dos mais conflagrad­os no momento.

Gilaberte diz que esse recrudesci­mento da violência não atinge os turistas, mas, em 2017, ao menos dois estrangeir­os foram feridos por balas ao entrar por engano em favelas.

Para o delegado, são casos pontuais, que não representa­m a situação mais ampla de segurança dos visitantes da cidade.

Ele explica o recrudesci­mento da violência de três formas: o aumento do poder bélico do tráfico, a expansão ANGRA DOS REIS População estimada: 194,6 mil pessoas População em favelas: 34,2% LETALIDADE VIOLENTA* Região dos Lagos 2003 APREENSÃO DE DROGAS 2003 338 REGIÃO DOS LAGOS População estimada: 700 mil pessoas População que vive em favelas em Cabo Frio, a maior cidade: 22%

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Ricardo Borges/Folhapress Praia de Angra dos Reis, cidade que viu número de mortes aumentar nos últimos anos
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