Folha de S.Paulo

Não faça sexo com motorista infrator

- COLUNISTAS DESTA SEMANA segunda: Leão Serva; LEÃO SERVA terça: Vera Iaconelli; quarta: Ilona Szabó de Carvalho; quinta: Sérgio Rodrigues; sexta: Tati Bernardi; sábado: Oscar Vilhena Vieira; domingo: Antonio Prata

CONTA A história que, ao ver os paulistas derrotados na Guerra dos Emboabas (contra os portuguese­s que queriam controlar Minas Gerais), as mulheres de São Paulo se recusaram a receber os maridos e fizeram uma greve de sexo. Isso foi no início do século 18. A peça “Lisístrata”, do grego Aristófane­s, narra um episódio semelhante, quando mulheres de Atenas exigiram o fim das guerras contra a inimiga Esparta (o episódio é narrado numa bonita canção de Chico Buarque).

Temos sido derrotados diariament­e em uma guerra muito mais letal do que todas as outras, inclusive a dos Emboabas: o trânsito mata cerca de 40 mil brasileiro­s todos os anos, o equivalent­e a quase todos os americanos que morreram na Guerra do Vietnã.

E toda essa violência é um crime de gênero: 85% dos acidentes com vítimas são causados por homens.

Está provado que atacar o bolso de quem desrespeit­a as leis não é suficiente. As multas não surtem efeito, muitos infratores não pagam, carros rodam sem licença e motoristas dirigem sem carteira, como é o caso do que bateu e do que foi abalroado na tragédia na rodovia dos Imigrantes, no último dia 9.

O sexo é o órgão mais sensível do ser humano. Chegou a hora de usar recurso mais eficiente, atacar o homem no que ele mais preza: devemos mirar o exemplo daquelas mulheres de Atenas e de São Paulo e pedir que parceir@s sexuais de infratores no trânsito, sejam eles héteros, homos, trans ou como queiram, recusem-se a transar com eles.

Deixou de usar o cinto de segurança? Vai conhecer o cinto de castidade. Parou em lugar proibido? O sexo fica estacionad­o por um dia. Atravessa o sinal amarelo? Dois dias na mão! Sinal vermelho? Uma semana! Excesso de velocidade? Dormir na sala. Perdeu a carteira de motorista? Só vai transar quando chegar a nova.

As testemunha­s contam que a mulher do motorista do Mercedes-Benz, agora preso sob acusação de matar duas pessoas e ferir outras seis na tragédia da Imigrantes, cobrou do marido: “Você viu o que fez?” Ao que ele teria dito: “Eu já destruí minha vida, agora você tem que ficar do meu lado”. Em verdade, ele destruiu diversas vidas, pelo menos oito no carro em que bateu, mais a de sua mulher, dele mesmo e seus familiares. E como elas, outras 40 mil famílias são destruídas anualmente pela perda de um ente querido para um tipo evitável de crime.

Tudo isso não aconteceri­a se os infratores fossem punidos com a falta de sexo. Muito antes dos 50 anos, o motorista do Mercedes teria aprendido a conter o pé no acelerador para poder manter outros prazeres.

Será a mais eficiente de todas as punições. A julgar pelos casos anteriores, das mulheres de Atenas e da São Paulo, ficará para a história, será uma medida lembrada daqui a muitos séculos.

Acho até que ela poderia ser estendida também aos radialista­s e políticos que atacam o que chamam de “indústria da multa”, quando na verdade enfrentamo­s uma “indústria de mortes”. Usou a expressão “indústria da multa”? Greve de sexo.

Então, dona Bia Dória: se o João voltar àquele mote de campanha, já viu, né? E tod@s @s outr@s parceir@s desses ogros que desrespeit­am as leis de trânsito: vamos melhorar nossa qualidade de vida. Menos é mais! Caem as infrações, sobe o sexo; caem os acidentes, aumenta o prazer.

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de SP e Atenas que protestara­m contra a guerra

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