Folha de S.Paulo

No Recife, maracatu dará lugar ao frevo durante a abertura do Carnaval

Prefeitura afirma que data comemora 111 anos do frevo e, por isso, fará a homenagem que desagradou mestres do maracatu

- KLEBER NUNES

COLABORAÇíO PARA A FOLHA

Pela primeira vez em 16 anos, a abertura do Carnaval do Recife não será embalada pelas alfaias (tambores) do maracatu de baque virado.

Na sexta-feira, 9 de fevereiro, o cortejo com mais de 500 batuqueiro­s e o coral feminino Voz Nagô serão substituíd­os por orquestra de frevo e apresentaç­ão de cantores como Luiza Possi e Lenine.

A decisão da gestão Geraldo Júlio (PSB), que põe fim ao legado deixado pelo percussion­ista Naná Vasconcelo­s — morto em 2016— desagradou integrante­s das nações de maracatu e gerou polêmica.

Segundo mestres de maracatus ouvidos pela Folha, para não ficar de fora do princi- pal palco da folia recifense, a praça do Marco Zero, as 13 nações “foram obrigadas” a aceitar o espaço no encerramen­to da semana pré-carnavales­ca, na quinta-feira (8). A gestão municipal defende que dia 9 é Dia do Frevo e, por isso, deve priorizar o ritmo.

Os mestres reclamam que, além de coincidir com a abertura do Carnaval de Olinda (PE), a alteração mexe com a questão religiosa das nações.

“Os tambores e as calungas (bonecas) são recolhidos 15 dias antes nos terreiros onde são feitas as obrigações e só saem na sexta-feira, dia dedicado a Oxalá. Para nós não é só o lado profano da história”, diz Danilo Mendes, 31, mestre do maracatu Aurora Africana.

Há oito anos, ele se apre- senta na abertura do Carnaval da cidade com uma média de 80 batuqueiro­s. Esse ano o grupo não deve passar de 65.

Em 2015, o maracatu foi tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como patrimônio cultural imaterial.

Presidente da Amanpe (Associação dos Maracatus Nação de Pernambuco), que reúne 29 grupos, Fabio Sotero, diz que as nações devem aproveitar a oportunida­de como um ato de resistênci­a. “São mais de 200 anos de história do maracatu e temos que fazer um belo espetáculo”, diz.

O mestre do Maracatu Estrela Dalva, Marcone Santos, 34, conta com a força da tradição para realizar a “melhor apresentaç­ão” que os foliões já viram. “Temos que aproveitar essa oportunida­de e manter vivo o legado de Naná.”

Para o secretário executivo de cultura do Recife, Eduardo Vasconcelo­s, com a substituiç­ão “ganham as agremiaçõe­s e os foliões”, que terão seis ao invés de cinco dias de festa no Marco Zero.

“No dia da nossa abertura oficial estaremos comemorand­o 111 anos do ritmo que é a cara do Recife e, por isso, resolvemos fazer uma verdadeira homenagem ao frevo”.

Ele nega que a decisão desrespeit­e a tradição construída por 16 anos por Naná Vasconcelo­s. “Sempre tivemos e continuare­mos tendo o maior respeito pelo legado de Naná, tanto que não tiramos a importânci­a do maracatu que estará presente em todos os 43 polos de nossa festa.”

 ?? Bernardo Dantas/Folhapress ?? Marcone Santos, à esq., mestre do maracatu Estrela Dalva, do qual participam Robson José e Milena dos Santos; mestres reclamam de inclusão de frevo na abertura do Carnaval
Bernardo Dantas/Folhapress Marcone Santos, à esq., mestre do maracatu Estrela Dalva, do qual participam Robson José e Milena dos Santos; mestres reclamam de inclusão de frevo na abertura do Carnaval

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