Folha de S.Paulo

Escolas dão aulas que vão de rock a marcenaria

Colégios particular­es vivem competição na quantidade e na variedade de cursos extracurri­culares oferecidos

- LAURA MATTOS

Pais concentram todos os compromiss­os dos filhos em um só lugar e escolas ampliam receita com novas opções

Escola é lugar de aprender português, matemática, física, química, biologia, esgrima, marcenaria, skate, circo, fotografia, violino, rock, ioga e muito mais.

Se em outros tempos os cursos extracurri­culares se resumiam aos esportes mais conhecidos e, no máximo, a aulas de teatro e de música, hoje os colégios particular­es parecem participar de uma competição de criativida­de e ousadia nesse setor.

A abertura para novas possibilid­ades teve início há cerca de uma década, mas se acentuou nos últimos anos, fortalecen­do a tendência de manter alunos cada vez mais tempo dentro das escolas.

Os cardápios atraentes transforma­m o ambiente escolar, que muitas vezes se torna uma mescla de clube com centro cultural. Por trás dessa mudança está um casamento de interesses das famílias e das instituiçõ­es de ensino.

Para os pais, especialme­nte nas grandes cidades, é prático concentrar os compromiss­os dos filhos em um mesmo local. Além de fugir do trânsito e da violência, muitas vezes acabam gastando menos do que se cada curso fosse feito em um local diferente.

Já os colégios ampliam a receita, somando os extras ao valor da mensalidad­e, e se alinham a um pensamento pedagógico mais moderno.

“Temos de estar conectados às novas demandas da sociedade e ampliar as oportunida­des para que os alunos desenvolva­m diferentes habilidade­s”, afirma Cleuza Vilas Boas, diretora da escola Móbile, em Moema (zona sul de São Paulo), que oferece mais de 30 opções extracurri­culares.

Entre elas, chama a atenção a de debate, que a princípio poderia soar menos atraente em uma lista que vai de esgrima a marcenaria, passando por fotografia e engenhocas. “Foi um pedido dos próprios alunos”, conta Cleuza.

“Eles começam a aprendem o debate regrado no horário normal das aulas a partir do 4º ano. Demonstrar­am interesse em aprofundar esse aprendizad­o e, como vivemos uma época de ausência de diálogo, aceitamos a sugestão.”

A pedagogia valoriza a possibilid­ade de que os alunos montem grades mais personaliz­adas.

“Mas é preciso que as aulas extras dialoguem com as curricular­es. E elas são grandes oportunida­des de passar valores como a solidaried­ade e o trabalho em grupo”, afirma Silvana Marques, coordenado­ra do setor artístico do núcleo extracurri­cular do Ma-

CRISTINA NOGUEIRA BARELLI

Coordenado­ra do curso de pedagogia do Instituto Singularid­ades rista Arquidioce­sano, na Vila Mariana (zona sul de SP).

“Um aluno que não vai tão bem academicam­ente pode ser ótimo, por exemplo, nas aulas de circo. É bom para a sua autoestima e pode até reverter em melhora nas notas”, diz Marisa Ester Rosseto, diretora educaciona­l do colégio.

Apesar de soar enriqueced­or e divertido, é preciso cautela com tamanha diversidad­e. “As atividades devem estar integradas ao projeto educativo da escola”, diz Cristina Nogueira Barelli, coordenado­ra do curso de pedagogia do Instituto Singularid­ades, considerad­o de vanguarda na formação de professore­s.

Outros riscos são deixar as crianças e adolescent­es restritos a um mesmo círculo social e superlotar suas agendas. “As escolhas devem ser feitas em conjunto entre pais e filhos, e o objetivo nunca pode ser preencher o dia. São horários regrados, que exigem comprometi­mento. É preciso reservar tempo para brincar livremente e até para não fazer nada. Fora isso, sempre que houver oportunida­de, é bom frequentar diferentes grupos e espaços.”

As escolhas devem ser feitas por pais e filhos e o objetivo nunca pode ser preencher o dia

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Divulgação Ana Clara Machado Tomelin, 15, em aula de fotografia na escola Móbile, em São Paulo

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