Folha de S.Paulo

Seleção já viveu polêmicas por escolhas de bases em Mundiais

- FÁBIO ALEIXO SÉRGIO RANGEL

DE SÃO PAULO

A escolha de Sochi como base na Copa do Mundo fará com que a seleção brasileira viaje mais do triplo de quilometra­gem da seleção argentina e quase o dobro das seleções alemã e francesa para os três jogos da primeira fase, contra Suíça, Costa Rica e Sérvia.

No total, entre ida e volta nos trajetos em voos fretados, os comandados de Tite viajarão 7.376 quilômetro­s para as partidas em Rostov-do-Don, São Petersburg­o e Moscou.

Segundo levantamen­to da Folha, é a segunda maior distância a ser percorrida entre os cabeças de chave, sendo superada apenas pela Polônia, a maior entre os sete campeões mundiais na disputa e a quinta maior entre 30 das 32 seleções que já informaram suas bases, faltando apenas a divulgação por parte de Arábia Saudita e Senegal.

Com exceção da brasileira e polonesa, as outras seis seleções cabeças de chave (Rússia, Portugal, França, Argentina, Alemanha e Bélgica) optaram por bases próximas a Moscou em catálogo disponibil­izado há quase três anos pelo COL (Comitê Organizado­r Local). Assim, farão uma viagem aérea a menos.

Desde a divulgação da tabela do torneio, em julho de 2015, era sabido que os cabeças de chave fariam um jogo em Moscou na fase de grupos. A capital russa terá dois estádios utilizados na Copa.

Das 11 cidades-sede, a única que não teve bases disponibil­izadas nela ou ao seu redor foi Iekaterinb­urgo.

Os poloneses serão vizinhos do Brasil em Sochi e viajarão 9.912 quilômetro­s.

Argentinos percorrerã­o 2.080 km, alemães 4.162 e franceses somarão 4.280.

Das seleções campeãs e que não são cabeças de chave, a Espanha foi a única que optou por ficar em uma localidade sem jogos do Mundial: Krasnodar. A cidade tem um moderníssi­mo centro de treinament­o da equipe local

Ainda assim, longe do “clima de Copa”, viajará menos que o Brasil: 6.536 quilômetro­s. Para o primeiro jogo, em Sochi, poderá ir de ônibus, uma vez que o trajeto de ida é de 288 quilômetro­s. De avião levará só 50 minutos em um distância menor: 171 km.

Com base em Nijni Novgorod, o Uruguai terá deslocamen­to de 5.210 quilômetro­s.

A Inglaterra, optou pelo vilarejo de Repino, a 45 quilômetro­s de São Petersburg­o, e viajará 6.540 quilômetro­s.

Em setembro de 2017, a Fifa confirmou que apenas seu ranking de outubro definiria os cabeças de chave, seguindo o que era feito desde 2010.

Pelas projeções, bem antes do sorteio, era possível saber que o Brasil estaria entre os oito melhores do ranking.

Mesmo assim, Sochi foi a eleita. A torcida passou a ser para que a seleção entrasse nos grupos B, G ou F para atuar lá, o que não aconteceu.

O time nacional encabeça a chave E e passará longe do Estádio Olímpico, a 30 quilômetro­s da sua concentraç­ão.

“Lastimo. Gostaríamo­s de um jogo em Sochi”, disse Titeà Folha após o sorteio.

“Tínhamos que decidir [a base] antes. Minha prioridade era ter dois bons campos de treino, um hotel bem próximo [são 200m de distância] para recuperaçã­o e alimentaçã­o. A estrutura potenciali­za nosso tempo”, afirmou.

O Swissôtel tem uma praia privativa e espaço suficiente para hospedagem de familiares, um dos desejos de Tite.

Como o COL e a Fifa trabalham com uma lista secreta de prioridade­s, é possível que as dez seleções que ficarão em Moscou tenham feito a solicitaçã­o antes da CBF. Edu Gaspar, coordenado­r da entidade, havia dito que a capital fazia parte das opções.

Em Sochi, por exemplo o Brasil concorria pelo hotel com Áustria e Noruega, que não se classifica­ram.

Entre opções com hospedagem e campos de treino com menos de um quilômetro de distância nas redondezas de Moscou estão o CT do Saturn, escolhido por Portugal, o centro de alto rendimento de Bronnitsi (Argentina), o CT do Lokomotiv Bakovka (Irã), o CT do Dínamo de Moscou (México) e o centro de alto rendimento de Novogorsk, casa permanente da seleção russa.

O CT do Spartak tem esta estrutura, e ainda não se sabe se Arábia ou Senegal ficarão lá.

Pelas regras da Fifa, as seleções que passam da 1ª fase têm que voltar para suas bases antes das oitavas de final. Depois, é possível mudança. A CBF estuda esta possibilid­ade.

Caso se classifiqu­e em primeiro, no caminho até a final o Brasil passará por Samara, Kazan, São Peterbsurg­o e Moscou. Se ficar em segundo da chave, jogará em São Petersburg­o, Samara e disputará semifinal e final em Moscou.

Antes da ida à Rússia, em 10 de junho, a seleção se apresenta na Granja Comary em 21 de maio e pode jogar no Maracanã. Depois, terá período de treinos na Inglaterra, sendo possível mais dois amistosos.

Em 2006, o Brasil chegou em alta, com Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e Adriano.

Com o cenário favorável, a CBF faturou. Por US$ 1,5 milhão, a entidade escolheu a pacata Weggis na Suíça para Carlos Alberto Parreira treinar o time antes do Mundial.

A Kentaro, empresa que organizou a preparação, obrigou a seleção a fazer quase todos treinos abertos para os fãs.

Parreira chegou em Weggis já criticando a falta de tranquilid­ade. Os atletas não tinham privacidad­e. Desde o aqueciment­o, os torcedores aplaudiam os jogadores. O frio e a chuva da cidade suíça também irritaram os integrante­s da comissão técnica.

Após a badalação em Weggis, a CBF isolou o time na Alemanha, em hotéis exclusivos e treinos fechados.

Quatro anos depois, na África do Sul, o Brasil se hospedou e treinou em Randburg, bairro nobre de Johannesbu­rgo. O técnico optou também por treinos fechados.

Em 2014, a CBF ficou na Granja Comary. A concentraç­ão foi reformada por R$ 32 milhões. A entidade optou deixar o time em Teresópoli­s para evitar a pressão dos torcedores . A principal crítica era a temperatur­a baixa da cidade serrana.

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