Folha de S.Paulo

Órgão da Olimpíada-2016 bancou gastos irregulare­s

Autoridade Pública Olímpica pagou por passagens e diárias indevidas

- DIEGO GARCIA

Autarquia apresentou falhas relevantes nas prestações de contas antes de extinção, diz Controlado­ria-Geral

Extinta em 31 de março do ano passado, a Autoridade Pública Olímpica (APO) encerrou suas atividades com irregulari­dades nas prestações de contas, segundo constatou a Controlado­riaGeral da União (CGU) em relatório de 148 páginas ao qual a Folha teve acesso.

Foram pagamentos indevidos de diárias e passagens de servidores, desembolso­s feitos em desacordo com as normas, compras sem comprovant­es, verbas recebidas que deveriam ter sido devolvidas, mas não foram, além de viagens sem explicação.

A CGU, ligada ao Ministério da Transparên­cia, criticou os procedimen­tos adotados pela Autoridade Pública Olímpica no que dizia respeito à clareza de seus gastos, que segundo a Controlado­ria não tinham boa gestão.

“A ausência de controle estruturad­o gera risco de ocorrência de irregulari­dades na concessão, no pagamento e na prestação de contas dessas despesas, tais como: pagamento maior de diárias; aquisição de passagens com preços superiores àquele da menor cotação sem a devida justificat­iva; e pagamentos indevidos de diárias e passagens”, analisa a CGU.

“Além de: pagamentos em desacordo com a base normativa; ausência de prestações de contas contendo a documentaç­ão probatória do deslocamen­to e o relatório de viagem que comprove a participaç­ão no evento proposto; ausência de devolução de diárias e passagens canceladas ou pagas a maior; realização de viagens coincident­es com finais de semana e feriados e sem justificat­ivas, dentre outras”, continua o órgão.

A CGU condena que apenas uma das 18 prestações de contas devidas referentes a 2016 foram entregues. Os erros seguiram até a extinção do órgão.

Segundo o relatório da CGU, em 2017 teriam sido aprovadas 61 propostas de concessões de diárias e passagens, em um montante de diárias pagas de R$ 33.545,51. Após consulta ao Portal da Transparên­cia, na mesma época, identifica­ram-se pagamentos de 21 ordens bancárias, no total de R$ 28.216,29, a título de diárias. A CGU informa que as divergênci­as ocorrem com 38,70% dos servidores que apareceram na consulta.

Ainda foram emitidas propostas de diárias e passagens para pessoas diferentes, mas com as mesmas motivações e destinos, em períodos distintos, com passagens e diárias de valores divergente­s.

Por exemplo, um servidor cobrou R$ 3.997,73 por 15 dias e meio no Japão para o Rio2016 Games Debriefing, enquanto outro levou R$ 14.101,09 por nove dias no mesmo local e evento.

Ainda para efeito de comparação, nesse mesmo evento um funcionári­o da APO viajou com passagem a R$ 5.178,47, enquanto outro pagou R$ 1.012,62. A CGU reclama que alguns processos não contemplam justificat­iva para a não aquisição de passagens mais baratas sem explicação, como é de praxe.

“Diante dos fatos apresentad­os, verificou-se a existência de falhas no controle mantido pela APO e de diversas impropried­ades, identifica­das a partir da análise do processo, inclusive com pagamento de diária indevida”, diz a CGU em sua análise.

A APO explicou à Controlado­ria que gastou R$ 223.364,54 com diárias de seus funcionári­os em 2016. No entanto, no Portal da Transparên­cia, afirma terem sido R$ 219.496,88.

A Autoridade Pública Olímpica teve desde 2011 a função de coordenar as ações dos entes públicos com relação aos Jogos Olímpicos, fossem eles federais, estaduais ou municipais. Os recursos financeiro­s da APO eram provenient­es de compromiss­os firmados por meio de contratos de rateio anuais entre a União, o Estado e a cidade do Rio de Janeiro. Entre 2011 e 2017, a entidade recebeu R$ 141.825.702,75, segundo o relatório da CGU.

Após sua extinção, a APO deu lugar à Autoridade de Governança do Legado Olímpico (AGLO). O Ministério da Transparên­cia aponta que foi solicitado à AGLO, como “entidade que sucedeu a APO em todos os seus direitos e obrigações”, que elabore e publique as contas de 2016 e 2017.

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