Folha de S.Paulo

Excesso de felicidade deixa filme monótono

Entre altos e baixos, virtudes do longa ‘Me Chame pelo Seu Nome’ se deixam envolver por fragilidad­es evidentes

- INÁCIO ARAUJO

FOLHA

Primeiro as boas notícias: talvez a melhor é que de novo podemos ver a luz da Itália no cinema, coisa rara hoje em dia. Mas não é de segunda ordem esse fenômeno recente que é o fato de relações afetivas entre pessoas do mesmo sexo terem começado a ser bem filmadas.

Em “Me Chame pelo Seu Nome”, o centro da trama é a ligação entre o jovem Elio e o americano Oliver. São os afetos que o filme mobiliza, antes de mobilizar a sexualidad­e. De maneira que, quando o faz, não é uma coisa de degenerado­s, mas de duas pessoas que se encontram. E isso é feito sem grandes pudores, o que não deixa de ser um mérito.

Agora as más notícias: não é por acaso que os contos de fada acabam com um “foram felizes para sempre”, assim que o príncipe encontra a princesa. A felicidade é uma coisa chata, vale para o “boy meets girl” assim como para o “boy meets boy”. Ou então se faz como Von Stroheim: é depois do casamento que as coisas importam de verdade (quando os rolos acontecem, o caráter se revela etc.).

O filme dirigido por Luca Guadagnino sofre de monotonia por excesso de felicidade, de não se aprofundar nas personagen­s, mas nunca da excessiva languidez que certos filmes românticos costumam se permitir.

Por fim, as notícias médias: trata-se de um roteiro de James Ivory, aparenteme­nte o real mentor do filme, portanto pode-se esperar um jogo de atração e repulsão bastante prolongado e não desprovido de sensibilid­ade.

Um pouco da história: numa vila italiana, um professor (o pai de Elio) recebe o americano Oliver para um período de estudos, durante as férias de verão de 1983.

O americano é o que há: alto, bonitão, culto, inteligent­e, bom dançarino, simpático. Elio o observa de esguelha por vários motivos. Aos poucos, os dois se aproximam. Elio deixa para trás inclusive uma jovem francesa nada desinteres­sante. Há um tanto de descoberta aí.

Por fim, esse longa tem o dom de nos remeter (acredito que aconteça com outras pessoas) a outros filmes. Os longos passeios de bicicleta dos dois rapazes, por exemplo, fazem lembrar bastante o belíssimo “And Soon the

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Divulgação Timothée Chalamet interpreta Elio; papel do adolescent­e europeu pode render ao ator norte-americano de 22 anos sua primeira indicação ao Oscar

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