Folha de S.Paulo

Contas melhores

No momento em que Estados mergulham em crise financeira, governo paulista tem números menos preocupant­es a mostrar

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Numa hora em que a credibilid­ade das contas públicas é baixa e muito se duvida da capacidade dos governos, em todos os níveis, de realizar os necessário­s ajustes, é indispensá­vel que candidatos à Presidênci­a e a governos estaduais indiquem com clareza o que pretendem fazer nesse campo.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), preocupase em demonstrar que faz uma gestão austera. Circula com um gráfico, que chama de cartão de visitas, em que compara as contas do Estado com as de outras unidades federativa­s entre 2011 e 2015.

A diferença aparece nos dois anos finais da amostra. Enquanto a receita despenca e as despesas continuam crescendo em outros lugares, em São Paulo as linhas caminham mais próximas.

De fato, o governo paulista conseguiu controlar despesas e evitar o quadro de interrupçã­o de serviços públicos e de pagamento de salários observado em outros Estados.

O pior parece ter passado. Nos primeiros dez meses de 2017 a arrecadaçã­o tributária voltou a crescer e atingiu R$ 128,3 bilhões, 5,4% (1,7% consideran­do o ajuste da inflação) acima do mesmo período de 2016. Como resultado, caiu a parcela que é gasta com servidores.

Depois de amargar seis anos seguidos de cresciment­o e desencadea­r um alerta do Tribunal de Contas do Estado (TCE), a despesa de pessoal do Executivo paulista em relação à receita corrente líquida ficou em 43,96%, em 2017.

O resultado é cerca de 0,5 ponto percentual menor do que em 2016 e abaixo do limite estabeleci­do pela Lei de Responsabi­lidade Fiscal (49%). Em ano eleitoral, Alckmin já começou a soltar algumas amarras e anunciou aumento de até 3,5% para o funcionali­smo.

Apesar dos bons resultados obtidos, é preciso continuar a administra­r as contas com cautela.

Pode-se afirmar que o problema de fundo não foi resolvido e não difere do que se observa em outros Estados —os compromiss­os com salários e benefícios do funcionali­smo, sobretudo aposentado­rias, serão crescentes nos próximos anos e vão restringir a margem para investimen­tos.

O gasto com Previdênci­a em 2017 (as contas ainda não foram fechadas) é estimado em R$ 30,3 bilhões, muito acima das receitas. O rombo, R$ 19,4 bilhões, precisa ser coberto por aportes do governo. As projeções mais recentes apontam para um pico de gastos com aposentado­rias de R$ 61 bilhões, que seria atingido em 2046.

Há ainda aperfeiçoa­mentos a providenci­ar na gestão orçamentár­ia, conforme determinaç­ão do TCE e sugestão do FMI e do Banco Interameri­cano de Desenvolvi­mento a partir de avaliação feita em 2016. Com todos as dificuldad­es, porém, até aqui evitou-se o pior.

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