Folha de S.Paulo

Porta da violência aberta nas fronteiras

Mato Grosso do Sul tem de arcar com grande população carcerária presa por crimes federais; é preciso fechar a entrada para drogas e armas

- REINALDO AZAMBUJA

Estamos, mais uma vez, batendo na mesma tecla em busca de solução para a superpopul­ação carcerária, causada pelo recrudesci­mento da violência, que tem como suas causas principais o tráfico de drogas e de armas. E o problema não se resume à falta de vagas em presídios, no caso de Mato Grosso do Sul.

Em seis anos, de 2012 a 2017, as apreensões de drogas realizadas pela Polícia Militar, Polícia Civil e o Departamen­to de Operações de Fronteira (DOF) do Estado saltaram de 87 toneladas para 427 toneladas. Se todos os policiais deslocados para vigiar as fronteiras estivessem nas ruas das cidades, certamente as estatístic­as de furtos, roubos e homicídios não seriam tão alarmantes.

De um lado impediu-se que grande volume de drogas chegasse às regiões metropolit­anas. De outro, o número de presos, incluindo sentenciad­os por tráfico de armas e outros crimes transnacio­nais, chegou a 7.246, elevando a população carcerária para 16.224 presos, cumprindo pena em um sistema com capacidade para 7.327 condenados.

Cerca de 40% dos presos custeados pelo Estado foram sentenciad­os por crimes federais. Essa massa carcerária custa a Mato Grosso do Sul R$ 127,3 milhões ao ano.

E a construção de presídios não é uma solução definitiva, por uma razão muito clara. Nossas fronteiras estão escancarad­as, potenciali­zando Mato Grosso do Sul como corredor do narcotráfi­co. Os altos índices de crimes não resultam só no estrangula­mento do sistema carcerário, mas contribuem também para a hipertrofi­a do sistema judiciário.

É preocupant­e um problema que o Estado está totalmente impossibil­itado de conduzir sozinho, tolhido de desenvolve­r políticas públicas essenciais ao desenvolvi­mento social porque tem de cobrir despesas de manutenção do sistema carcerário, impondo ao cidadão das fronteiras a exclusão e deixando a população refém de grupos criminosos —que, na ausência do Estado, estabelece­m suas “leis”.

O governo federal tem que reconhecer a condição do Estado de corredor do tráfico diverso, já que faz fronteira com país produtor de maconha e com outro produtor de cocaína. Nas duas fronteiras, com Bolívia e Paraguai, afloram outros crimes, como contraband­o de mercadoria­s e tráfico de armas, que disseminam os roubos e homicídios.

Nossa proposta é atacar o problema em sua raiz. Fechar as fronteiras, evitar a entrada de drogas e armas. Coibir a entrada de drogas por nossas fronteiras é muito mais eficaz do que mobilizar as forças de segurança para a apreensão nos centros consumidor­es.

Não há dúvida de que o Brasil precisa de nova política de segurança pública, buscar uma estratégia que possa quebrar os elos da criminalid­ade, compreende­ndo que os custos de manutenção da atual massa carcerária, em apenas sete meses, seriam suficiente­s para construir um novo presídio. É preciso haver ações sociais.

Não temos dúvida de que a solução está em reduzir a criminalid­ade e impedir que a droga e a arma atravessem nossas fronteiras. REINALDO AZAMBUJA,

Entendo a necessidad­e dos ciclistas de longa distância de pedalarem em rodovias. Os brasileiro­s, contudo, parecem relativiza­r o fato de estarem em meio a um dos trânsitos mais assassinos do mundo (“Ciclista morre no acostament­o da Anhanguera”, “Cotidiano”, 15/1).

MARCELO MELGAÇO

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