Folha de S.Paulo

Odebrecht negocia mais 30 acordos em São Paulo

Empresa diz que entregará provas sobre suborno no Metrô, Dersa e prefeitura

- MARIO CESAR CARVALHO

Estão em discussão ainda detalhes sobre caixa dois para políticos como Serra, Haddad e Chalita

Após passar nove meses discutindo o que resultou no maior acordo da Operação Lava Jato, os advogados da Odebrecht vão ter de enfrentar mais negociaçõe­s: só em São Paulo a empresa terá de fazer 30 acordos para se livrar de processos por ter subornado políticos e agentes públicos para obter contratos do Metrô, Dersa e a Prefeitura de São Paulo, entre outros.

Isso ocorre porque promotores do Ministério Público de São Paulo se recusaram a endossar o acordo de leniência que a Odebrecht assinou com a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, como a Folha revelou em setembro do ano passado. Acordo de leniência é uma espécie de delação para empresas.

Sem endossar esse acordo, os promotores ficariam sem acesso às provas apresentad­os pela Odebrecht. A solução foi fazer acordos para cada um dos temas que era investigad­o pelos promotores e sobre os quais a empresa havia revelado ilegalidad­es no acordo de Curitiba.

Os promotores de São Paulo avaliam que o acordo da Odebrecht contém ilegalida- SOLUÇÃO Em dezembro, a Promotoria anunciou um acordo paralelo em que a Odebrecht se compromete­u a ressarcir o Estado por irregulari­dades. A Justiça ainda precisaria homologar esses compromiss­os RESULTADO Foram protocolad­as quatro ações de improbidad­e em São Paulo com base nesse acordo, em que a empresa se compromete­u a devolver recursos. Os prazos para pagamento são de até 22 anos des, como a falta de adesão da CGU (Controlado­ria-Geral da União) e da AGU (Advocacia-Geral da União), prevista em lei. A empresa está negociando com esses órgãos.

O temor dos promotores era de que todo o material que eles recebessem da Lava Jato fosse considerad­o prova ilícita por conta desses buracos no acordo. ALVO EM UMA DAS AÇÕES Gilberto Kassab, atual ministro da Ciência, Tecnologia e Comunicaçõ­es O QUE DIZ A AÇÃO Kassab teria recebido caixa dois de 2008 a 2014 O QUE ISSO CARACTERIZ­A Para a Promotoria, o recebiment­o de caixa dois configura improbidad­e administra­tiva PENAS Se condenados, os réus podem perder função pública ou ser obrigados a ressarcir os cofres públicos

Como a Odebrecht aceitou a proposta de discutir novos acordos em São Paulo e entregar as provas que apresentou aos procurador­es de Curitiba, o risco de tudo acabar em nulidade não existe mais, na visão dos promotores.

Devido ao risco de prescrição, o primeiro desses acordos foi assinado no final de dezembro. Nele, a Odebrecht diz ter pago R$ 21,2 milhões ao ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), via caixa dois, entre 2008 e 2014. O ex-prefeito nega que tenha recebido valores ilícitos.

Para não ser processada por improbidad­e, a Odebrecht aceitou pagar uma multa de R$ 35 milhões para encerrar quatro investigaç­ões. Os promotores querem que Kassab, atualmente ministro de Ciência e Tecnologia, devolva R$ 85 milhões.

A Odebrecht diz que o dinheiro da multa saíra dos R$ 8,5 bilhões que a empresa acertou no acordo fechado com procurador­es da Lava Jato e homologado posteriorm­ente pelo juiz Sergio Moro.

Os acordos que estão em discussão na Promotoria do Patrimônio Público envolvem o pagamento de suborno em obras como a do Rodoanel, as linhas 2-verde, 5-lilás e 6-laranja do Metrô, o estádio do Corinthian­s e contribuiç­ões via caixa dois para as campanhas de políticos como o senador José Serra (PSDB-SP), o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e o ex-deputado Gabriel Chalita (PDT-SP).

Todos dizem que nunca receberam recursos ilegais da Odebrecht.

Já a empresa diz por meio de nota que continuará a colaborar com a Justiça: “A Odebrecht reitera que reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou acordos de leniência e está comprometi­da a combater e não tolerar a corrupção”.

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