Folha de S.Paulo

Camex defende barreira contra aço importado

Órgão se opõe à Fazenda, que não quer proteção à indústria local temendo alta na inflação

- MARIANA CARNEIRO

Dois estudos produzidos pelo governo divergem sobre os efeitos da proteção à indústria brasileira do aço contra concorrent­es importados de China e Rússia.

Os oito ministros que compõem a Camex (Câmara de Comércio Exterior) darão a palavra final sobre a barreira na quinta-feira (18).

A decisão, que colocou em lados opostos as siderúrgic­as e os consumidor­es de aço no Brasil, como os fabricante­s de eletrodomé­sticos e de carros, também divide o governo.

Estudo elaborado pelo núcleo econômico da Camex, a que a Folha teve acesso, afirma que a proteção teria impacto levemente positivo na produção doméstica de aço (0,05%) e efeito quase nulo sobre a inflação (0,0008% sobre o nível de preços interno). O aço em discussão (laminados a quente) ficaria 0,14% mais caro no Brasil.

O diagnóstic­o diverge do previsto pelo Ministério da Fazenda. Estudo da secretaria de acompanham­ento econômico mostra que o impacto sobre a inflação seria maior (0,09%), fazendo com que eletrodomé­sticos ficassem até 3% mais caros.

Ambos os documentos afirmam que os importados são parte reduzida do consumo nacional de aço e que a queda da produção doméstica —um dos fundamento­s do pedido de proteção feito pelas siderúrgic­as— se deve à redução da demanda interna, com a recessão.

No estudo do Ministério da Fazenda, durante o período sob avaliação (2013-2015), a produção recuou 11%, e a importação, 5,6%. Em outras palavras, a queda da produção não tem a ver com uma “concorrênc­ia desleal de importados”, necessária para justificar uma barreira antidumpin­g.

Além disso, dado o nível de concentraç­ão elevado da produção local em apenas quatro siderúrgic­as (ArcelorMit­tal, CSN, Gerdau Açominas e Usiminas), haveria espaço para que elas aumentasse­m preços em um contexto de recuperaçã­o da economia. Isso puniria toda a cadeia de consumidor­es da matéria-prima.

Já no documento produzido pela Camex, a baixa participaç­ão do aço importado no consumo local indica que a barreira contra China e Rússia teria efeito praticamen­te nulo sobre a cadeia que depende do aço.

Indústrias metalúrgic­as, de máquinas, equipament­os de transporte, produtos de metal, veículos, entre outros, sofreriam, porém encolheria­m apenas 0,0004% com o aço mais caro.

Já as importaçõe­s, sim, recuariam 16% —China e Rússia reduziriam as vendas ao Brasil em mais de 50%.

O documento, no entanto, não sugere uma posição favorável à proteção ou indica votos aos ministros que compõem a Camex, formada por Fazenda, Planejamen­to, Agricultur­a, Transporte­s, Casa Civil, Secretaria-Geral da Presidênci­a, Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços) e Itamaraty.

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27.nov.2017/Reuters Indústria siderúrgic­a chinesa; produtos do país asiático podem sofrer barreira no Brasil

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