Blocos se mobilizam por ‘Carnaval sem bomba’ em ensaios para folia
Organizadores questionam repressão da PM, e prefeitura cobra pedidos de autorização
Organizadores de blocos do Carnaval de São Paulo decidiram se mobilizar para evitar a utilização de bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha pela Polícia Militar na repreensão aos foliões.
A queixa, que já vem de anos anteriores, se repetiu no sábado (13) na festa de préCarnaval do bloco Minhoqueens, no Bixiga (centro) —que terminou em confusão, correria e participantes feridos.
A PM disse que só agiu após pedir a liberação da via.
Além da mobilização em grupo de mensagens, um manifesto foi publicado nesta segunda (15), com a hashtag #carnavalsembomba, em página de rede social do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, que atrai multidões pelo centro nos dias de folia.
Para os organizadores, a repressão violenta é indício de falta de preparo do poder público para lidar com o crescen- te Carnaval de rua paulistano.
Já a gestão João Doria (PSDB) diz que exige dos blocos um pedido de autorização para ensaios fora do calendário oficial do Carnaval, que só começa no primeiro fim de semana de fevereiro.
Segundo a prefeitura, isso não foi cumprido. Nas próximas duas semanas, há ao menos 12 ensaios de blocos previstos —antes da data oficial.
“É um fenômeno social que precisa ser compreendido”, diz Alê Youssef, um dos fundadores do Baixo Augusta.
Questionada pela Folha ,a PM, ligada ao governo Geraldo Alckmin (PSDB), afirma, por meio da Secretaria da Segurança Pública, que mantém esquema especial para locais de grande concentração, como os blocos.
Afirma ainda que faz reuniões com organizadores e a prefeitura e que apura eventuais excessos na atuação da polícia no último sábado.
Desde 2017, a gestão Doria tem se reunido com os organizadores para mudar as regras das festividades, como exigir aviso prévio de ensaios.
“Não pedimos autorização porque o ensaio iria acontecer dentro de um bar”, afirma Fernando Magrin, organizador do Minhoqueens. Pela legislação municipal, eventos em locais públicos com mais de 250 pessoas demandam alvará de autorização.
A prefeitura afirmou que irá multar o dono do bar onde o ensaio foi organizado em R$ 95 mil. O comerciante Francisco Pereira de Souza, proprietário do Bar do Chicão, disse que ainda não foi notificado. “Fazemos essa festa desde o ano passado, mas nunca veio tanta gente”, afirmou ele, que calcula em 4.000 pessoas a aglomeração formada no entorno do seu estabelecimento no sábado.
A espontaneidade do Carnaval de rua é a explicação para situações como essa, segundo Youssef. “É impossível para um organizador de bloco tirar as pessoas da rua. O crescimento em progressão geométrica do Carnaval é uma questão a ser levada em conta, e não reprimida. A prefeitura tem que mediar essa relação com a polícia.”
O organizador do Baixo Augusta disse que precisou se reunir com a Secretaria das Prefeituras Regionais após o ensaio de seu bloco também ter extrapolado os limites do galpão onde o evento foi marcado, no domingo (14).
Ele conta que foi pedir autorização para transferir os próximos ensaios para a rua. “Cerca de 10 mil pessoas ficaram de fora. Precisou dar essa confusão para a prefeitura prestar mais atenção no período de ensaios”, disse.
Para José Cury Filho, integrante do Fórum dos Blocos de Carnaval de SP, a falta de preparo em lidar com as semanas de ensaios mostra desconexão com a realidade da cidade. “O Carnaval é maior do que o período que começa no dia 3 [de fevereiro]. Os ensaios fazem parte da festa.”
O aposentado Oswaldo Borin, 79, morreu atropelado na noite de domingo (14) na rua Heitor Penteado, perto da avenida Pompeia, na Vila Madalena (zona oeste).
Ele atravessava na faixa de pedestres quando, segundo testemunhas, um Fiat em alta velocidade o atingiu. Pelo menos três pessoas disseram à polícia que o atropelador tirava um racha com outro carro. Ambos fugiram sem prestar socorro à vítima.
Borin morava sozinho num prédio próximo do local. Vizinhos afirmam que ele costumava andar a pé e, naquele momento, voltava da missa.
Segundo Francisco Terra, 31, que presenciou o acidente, dois carros estavam lado a lado em alta velocidade e não esperaram o idoso atravessar. “Acho que estavam a quase 100 km/h”, diz. O limite de velocidade da via é de 50 km/h.
Ainda segundo Terra, uma médica e um estudante de medicina que passavam pelo local tentaram reanimar Borin, sem sucesso.
Após o atropelamento, um dos veículos suspeitos, identificado como um Fiat 500 branco, seguiu pela rua Cerro Corá. O outro, um Gol azul, seguiu sentido marginal Tietê. Um motoqueiro o seguiu e conseguiu anotar a placa.
Duas testemunhas afirmaram que seus carros foram fechados seguidamente pela dupla, que ia no sentido Lapa. Por isso, o delegado Marcel Druziani, do 23º DP (Perdizes), responsável pelas investigações, acredita que os dois disputavam um racha.
A partir da placa, a polícia identificou o motorista do Gol: um caminhoneiro de 51 anos de Osasco (Grande SP), que depôs nesta segunda (15). Segundo Druziani, o acusado afirmou que não participava de racha, que estava a 70 km/h e que não parou porque não viu o atropelamento.
Ele foi liberado após depor e indiciado sob suspeita de homicídio com dolo eventual, racha e fuga do local do acidente, segundo Druziani.