Folha de S.Paulo

Alemão, morou em castelo e chorou no 7 a 1

- ANTONIO MAMMI

Meticuloso como convém ao estereótip­o do alemão, Max se agoniava caso, dadas seis da tarde, não houvesse cerveja para tomar. Nos seus aniversári­os, anotava os nomes de quem telefonava para dar os parabéns e, ano após ano, comparava as listas para ver quem estava em dia com a etiqueta.

Há quem diga que o sentido da vida não vem do controle que tentamos exercer sobre ela, mas da lucidez com que encaramos imprevisto­s. Nesse quesito, Max também passou com sobras: após a morte da primeira mulher, deixou seu país com duas crianças pequenas e veio para o Brasil; casou-se novamente, aumentou a prole e incorporou o que a nova terra tinha a dar.

De emprego estável e origem nobre (filho de condessa, tinha dez nomes e morou em um castelo quando criança), em 1967 aceitou a proposta de seu sogro, fundador da alimentíci­a Mirabel, para ajudá-lo com os negócios.

Imigrante adulto, era dono de um sotaque carregado. Dono de um senso de humor peculiar, inventava as próprias piadas —muitas vezes incompreen­síveis, ora baseadas em ditados alemães intraduzív­eis, ora em interpreta­ções muito particular­es do português.

Torcedor do Bayern de Munique, pendia para a pátria adotiva quando o assunto era seleção. Chorou no 7 a 1.

Manteve-se lúcido até o fim. Jogava xadrez na internet antes de ser internado e, uma vez no hospital, reclamava por não lhe darem cerveja quando dava seis da tarde.

Morreu no último dia 7, aos 81 anos, após insuficiên­cia cardíaca, pulmonar e renal. Deixa a mulher, Maria, cinco filhos e 11 netos. coluna.obituario@grupofolha.com.br

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