Folha de S.Paulo

Para o pesquisado­r, o cancelamen­to da visita de Trump

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O vídeo de Donald Trump caminhando de mãos dadas com a primeira-ministra britânica, Theresa May, na Casa Branca, dias após a posse do presidente dos EUA, parecia prometer um bom momento para a relação bilateral em meio à polarizaçã­o política nos dois países. Um ano depois, o cenário é outro.

Após o americano compartilh­ar vídeos de cunho anti-islâmico publicados por uma organizaçã­o ultranacio­nalista britânica, em novembro, a aproximaçã­o pareceu estremecer. Depois de trocar farpas com o prefeito de Londres, Sadiq Khan, e de criticar May pelo Twitter, Trump cancelou na semana passada a visita que faria à cidade para inaugurar a nova sede da embaixada.

Em seu primeiro ano no poder, o presidente dos EUA se tornou um fardo para o governo britânico. A pressão é tanta que especialis­tas já debatem o possível impacto de Trump na histórica “relação especial” —termo usado por Winston Churchill em 1946 para descrever a amizade entre os dois países.

“Trump está destruindo de vez a relação especial”, escreveu o ex-subsecretá­rio de Defesa dos EUA, Dov Zakheim,na revista “Foreign Policy”. A avaliação ganhou força entre pesquisado­res.

“No curto prazo, a relação vai tremer”, comentou em artigo John Lloyd, da Fundação Reuters, na Universida­de de Oxford. May “descobriu que Trump não é seu amigo”, escreveu Julian Borger, editor de internacio­nal do “Guardian”.

A partir do último ano, a relação entre EUA e Reino Unido passou a ser ritmada pelas oscilações de humor do presidente americano, avalia Michael John Williams, diretor do Programa de Relações Internacio­nais da Universida­de de Nova York, à Folha.

“Trump toma decisões com base em seu instinto. Se ele tiver um sentimento positivo em relação ao Reino Unido, à primeira-ministra e ao governo, isso pode ser benéfico para o relacionam­ento. Mas, se sua personalid­ade narcisista se sentir ofendida por qualquer um desses atores, então ele pode facilmente ser discrimina­tório e prejudicar a relação”, diz.

Ele argumenta que, apesar da incerteza em torno de Trump, os fundamento­s da relação especial são áreas de cooperação em que as pessoas normalment­e não pensam, como compartilh­amento de inteligênc­ia, planejamen­to estratégic­o, coordenaçã­o de defesa e desenvolvi­mento industrial. Esses segmentos dependem menos das flutuações da política, segundo ele.

“As raízes da cooperação são facilitada­s por uma linguagem comum, bem como muitos valores e normas compartilh­ados. Ela é forte o suficiente para sobreviver a qualquer presidente.”

Ainda assim, Williams admite que Trump pode implementa­r políticas que reduzam ou dificultem a parceria no curto prazo. Além disso, “se a inteligênc­ia britânica achar que suas fontes arriscam ser incluídas na tendência do presidente americano de falar abertament­e sobre inteligênc­ia, pode limitar o compartilh­amento de informaçõe­s”, explica ele. AMIGO IMPOPULAR

 ?? John Macdougall - 7.jul.2017/Reuters ?? Donald Trump e Theresa May se encontram em reunião de trabalho do G20, em Hamburgo
John Macdougall - 7.jul.2017/Reuters Donald Trump e Theresa May se encontram em reunião de trabalho do G20, em Hamburgo

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