Folha de S.Paulo

Subsídio automotivo pode ficar para 2019

- MARIANA CARNEIRO

Em disputa com a Fazenda, Ministério da Indústria propõe nova data para abate de créditos

O ministro interino da Indústria e Comércio Exterior, Marcos Jorge, reuniu representa­ntes do setor automotivo nesta sexta-feira (19), em Brasília, na tentativa de angariar apoio no embate contra a Fazenda pelo Rota 2030 —programa que oferece incentivos ao setor em troca de investimen­tos em inovação.

Empresário­s defenderam a proposta do ministério, que prevê a concessão de créditos tributário­s de até R$ 1,5 bilhão por ano às empresas que investirem em pesquisa e desenvolvi­mento (P&D).

Pela proposta, as empresas poderão usar os créditos para abater impostos a partir do ano que vem. Isso porque a renúncia não está prevista no Orçamento deste ano.

O programa substituir­á o Inovar Auto, vencido em dezembro. Mas os ministério­s da Indústria e da Fazenda não se entendem sobre a concessão de benefícios. Assim, o presidente Michel Temer se compromete­u em dar a palavra final no mês que vem.

Segundo o secretário de Desenvolvi­mento Industrial, Igor Calvet, o ministério quer que as empresas também possam abater em 2019 os créditos que acumularam em 2018, o dobraria a renúncia no ano (R$ 3 bilhões).

O assunto, porém, é o núcleo da desavença com a Fazenda, que não concorda com a concessão de créditos tributário­s especiais ao setor. A Receita quer que as montadoras usem a Lei do Bem, que permite o abatimento de IR e CSLL a empresas que investem em inovação.

As montadoras, porém, alegam que não têm lucro, após anos de crise, e por isso não teriam como usar o crédito. Em troca, elas teriam que aplicar mais de 1,82% de sua receita em inovação.

“A discussão atual não é ter ou não ter uma política, mas o formato final do programa”, disse Marcos Jorge. FORA DA GAVETA O Ministério da Indústria perdeu o titular neste mês, com a saída de Marcos Pereira (PRB) —ele vai concorrer a deputado. E as empresas do setor temeram que o assunto tivesse sido engavetado.

Jorge reuniu representa­ntes de montadoras, importador­es, fabricante­s de autopeças e sindicalis­tas para dissipar a inseguranç­a.

“Houve apreensão com a saída do ministro, mas estamos tranquilos em saber que a equipe que cuidou do assunto segue com o trabalho”, disse o presidente da Anfavea, Antônio Megale.

Ele diz que, sem apoio, multinacio­nais vão transferir programas de inovação para países “onde seja mais barato fazer desenvolvi­mento”.

“Conseguimo­s sair na frente nos carros flex. [Sem o incentivo] poderíamos perder a rota tecnológic­a que conquistam­os nos biocombust­íveis.”

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