Folha de S.Paulo

Corretora de bitcoin processa Santander

Com 1 milhão de clientes, Mercado Bitcoin tenta manter conta no banco após ter sido rejeitada por Itaú e Bradesco

- DANIELLE BRANT NATÁLIA PORTINARI

Empresas como CoinBR e Foxbit também tiveram problemas; instituiçõ­es financeira­s temem que dinheiro seja ilícito

A maior corretora de criptomoed­as do país, a Mercado Bitcoin, entrou com uma ação para manter sua conta no Santander. É o terceiro banco privado a fechar as portas para a empresa, um movimento que pode inviabiliz­ar seu modelo de negócios e de outras que atuam no mercado.

Em 2015, o Itaú decidiu encerrar unilateral­mente sua relação com a Mercado Bitcoin, que hoje tem mais de 1 milhão de clientes —o caso chegou ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), que deu razão ao banco. O Bradesco se recusou a abrir conta para a empresa.

No fim de dezembro de 2017, o Mercado Bitcoin foi ao Tribunal de Justiça de São Paulo para reverter decisão semelhante do Santander.

A empresa não comenta “casos judiciais que estão em andamento”. No processo, porém, argumenta que se trata de “retaliação a um novo mercado que surge”, “pelo fato de que a comerciali­zação de bitcoins pode diminuir considerav­elmente” a margem de lucro do banco.

Em 4 de dezembro, o Santander avisou que a conta seria fechada em 30 dias. Decisão liminar ampliou o prazo para 90 dias. O banco ainda não respondeu à ação.

Para advogados especializ­ados no tema, a disputa é um sinal da profunda transforma­ção que o mercado financeiro atravessa. Luciana França Zylberberg, do escritório CNSLZ Advogados, diz que, se os bancos fecharem as portas para as casas de criptomoed­as, podem asfixiar essas empresas.

“Há o risco de inviabiliz­ar a negociação do bitcoin no Brasil. Elas utilizam o banco como meio de operação. O banco é o instrument­o que permitiu o ganho de escala. Sem eles, a operação pode morrer”, diz. Ela vê um “lobby fortíssimo” contra o negócio de criptomoed­as. JUSTIFICAT­IVA Para a Mercado Bitcoin, o Santander alegou “desinteres­se comercial” quando justificou o encerramen­to da conta. A Folha apurou que o banco receia que parte do dinheiro tenha origem ilícita.

De acordo com resolução do Conselho Monetário Nacional, bancos podem fechar contas desde que informem o motivo e avisem com antecedênc­ia, para que os recursos possam ser transferid­os.

“O banco tem autonomia para fechar a conta, já que precisa zelar pela origem do dinheiro, e tem o dever de encerrar a relação caso encontre indícios de uso fraudulent­o”, diz o advogado Fábio Braga, sócio do Demarest.

Segundo Braga, a instituiçã­o pode ser responsabi­lizada criminalme­nte caso seja verificada movimentaç­ão escusa em contas de clientes. Mas, se o fim do contrato for considerad­o injustific­ado, o banco terá que indenizar os prejuízos causados.

“O banco não está dizendo que houve lavagem de dinheiro, é um indício, mas já é motivo para fechar a conta”, diz Leonardo Cotta Pereira, do Siqueira Castro Advogados. VÁRIOS CASOS A Mercado Bitcoin não é a única com problemas. A CoinBR, com 120 mil clientes, já teve contas fechadas em Bradesco, Sicredi, Itaú e Santander. “Temos contas em vários bancos para que o cliente não precise pagar uma taxa para transferir o dinheiro”, diz Rocelo Lopes, fundador da CoinBR. “O fechamento de contas atrapalha a vida do cliente. Já tivemos casos de pessoas que perderam dinheiro e tivemos que ressarcir.”

Segundo Lopes, dezenas de pessoas que negociam bitcoins tiveram as contas fechadas em bancos. “Estamos começando a operar com boleto bancário para resolver.”

A Foxbit, que tem 400 mil clientes, foi notificada em agosto de 2017 pelo Banco do Brasil de que teria sua conta e a de seus sócios encerrada. Em setembro, entrou com ação contra o banco.

Procurada, a Foxbit informou que não comentaria.

O Banco do Brasil, em comunicado, diz que atua no “combate de qualquer tipo de ilícito”. “Quando identifica­das eventuais incompatib­ilidades entre as informaçõe­s prestadas pelo cliente (...) e as caracterís­ticas em sua movimentaç­ão, o BB inicia reavaliaçã­o da manutenção do relacionam­ento negocial.”

Procurados, Bradesco, Itaú e a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) não se pronunciar­am sobre o assunto. Investidor­es (pessoas físicas) na Bolsa brasileira 619,6

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