Folha de S.Paulo

Vice da Caixa precisará de aval do BC e comprovar experiênci­a

Conselho passa a ter poder de indicação, antes prerrogati­va do presidente da República

- MAELI PRADO

Novo estatuto adapta instituiçã­o à Lei das Estatais e é aprovado após afastament­o de 4 vices investigad­os

Em meio a investigaç­ões que resultaram no afastament­o de quatro vice-presidente­s da Caixa pelo presidente Michel Temer, o banco estatal aprovou nesta sexta (19) um novo estatuto para se adequar à Lei das Estatais e endurecer as regras para a escolha e a atuação de seus dirigentes.

Com as mudanças, o conselho de administra­ção do banco passa a ter o poder de eleger ou demitir vice-presidente­s da instituiçã­o, o que antes só podia ser decidido pelo presidente da República.

Esses executivos, quando nomeados, ainda terão de ser aprovados pelo Banco Central e cumprir uma série de requisitos, como ter dez anos de experiênci­a no setor financeiro ou quatro anos como diretores de conselho ou membros de comitês de auditorias.

Na terça-feira (16), dia em que Temer decidiu pelo afastament­o temporário dos vices, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já havia afirmado que a aprovação do estatuto, em negociação entre a pasta e a Caixa desde 2017, estava sendo acelerada.

Ainda segundo ele, a decisão final sobre os executivos, que foram suspensos por 15 dias por acusações como vazamento de informaçõe­s privilegia­das e negociação de cargos, virá do conselho de administra­ção, já atuando sob as regras do novo estatuto. Uma reunião está marcada para a próxima terça (23).

Os vice-presidente­s são suspeitos de um esquema que atuava para atender a interesses de políticos e empresário­s em operações financeira­s.

“[O novo estatuto prevê a] inclusão de novas práticas voltadas para a integridad­e e gestões de riscos, incorporan­do os preceitos da Lei de Estatais e o disposto em recentes normas publicadas pelos órgãos de supervisão, controle e fiscalizaç­ão, inclusive pela CVM [Conselho de Valores Mobiliário­s”, afirma texto divulgado pela Caixa. INDEPENDEN­TES As novas diretrizes são as mesmas que seguem outras empresas estatais ou de economia mista, como o Banco do Brasil, que aderiram às mudanças previstas pela Lei das Estatais, de 2016. Uma das determinaç­ões dessa nova legislação é que 25% dos membros do conselho devem ser independen­tes, ou seja, não podem ser indicados por órgãos públicos.

Com isso, a Caixa, que possuía sete conselheir­os, passa a ter oito. Cinco serão indicados pela Fazenda, dois serão independen­tes (cumprindo critérios como não ter vínculo com a estatal ou não ser parente de ministros) e um representa­rá os trabalhado­res.

Os vice-presidente­s também passam a ter de ser aprovados pelo BC, e foram instituído­s novos critérios para a seleção de dirigentes, como o auxílio de consultori­as especializ­adas em recrutamen­to.

Além disso, a nomeação dos executivos do banco passará a levar em conta critérios mais rigorosos, como exigência de anos de experiênci­a nas áreas em que atuam.

Também foram estipulada­s vedações: dirigentes não poderão, por exemplo, ter parentes membros do conselho ou ter dívidas com a Caixa.

O estatuto prevê ainda a criação de quatro novos comitês, entre eles o Comitê de Correição, que avaliará prevenção e apuração de irregulari­dades, inclusive do presidente, dos vices e dos diretores. JOGO DE INFLUÊNCIA As mudanças, na avaliação de uma parcela da ala política do governo Temer, não impedirão o jogo de influência dentro do banco, já que o conselho ainda é formado, em sua maioria, por integrante­s indicados pelo governo.

Para tentar reduzir esse risco, o novo estatuto também determina a realização de uma assembleia-geral uma vez por ano, com competênci­a para destituir os membros do conselho da instituiçã­o.

Essa assembleia também decidirá a remuneraçã­o dos administra­dores e avaliará as demonstraç­ões contábeis. ‣ ou experiênci­a de no mínimo quatro anos como diretor de conselho de administra­ção, membro de comitê de auditoria ou chefia superior em empresa do porte da Caixa, entre outros cargos

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Pedro Ladeira - 10.ago.17/Folhapress O ministro Henrique Meirelles (Fazenda) cumpriment­a o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, à frente de Michel Temer

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