Folha de S.Paulo

Os falsos pecados da carne

- MARCOS SAWAYA JANK COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Nelson Barbosa; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo: Samuel Pessôa

A APROVAÇÃO, em dezembro, de um projeto de lei que proíbe o consumo de carne bovina às segundas nas escolas e órgãos públicos do Estado de São Paulo é mais uma infame agressão contra a pecuária e as carnes.

Nada temos contra pessoas que optam por não consumir carne, glúten, açúcar ou qualquer outro alimento. Ainda bem que a livre escolha prevalece no mundo moderno. Agora o Estado querer ditar hábitos de consumo, definindo o que pode ou não ser consumido a cada dia da semana, é uma arbitrarie­dade intoleráve­l.

Na esteira dessa excrescênc­ia autoritári­a da Assembleia paulista, no dia 11 a administra­ção do porto de Santos proibiu os embarques de animais em pé para a exportação, rubrica que trouxe US$ 280 milhões em divisas para o país em 2017.

O comércio de animais vivos vem crescendo 5% ao ano no mundo. Países importante­s como Indonésia, Turquia, Vietnã e o Oriente Médio optam por importar animais para engorda e abate, pois isso gera renda para os seus pecuarista­s e a indústria doméstica.

O Brasil, detentor do maior rebanho bovino comercial do mundo, é o pais com maior potencial de cresciment­o na exportação de animais vivos. Nossos concorrent­es são Austrália, Canadá e México. Não há razão plausível para essa proibição.

É fundamenta­l olhar em maior perspectiv­a o impacto da “segunda sem carne” e da proibição da exportação de gado em pé. O Brasil é líder e referência global na produção de carnes, posicionan­do-se entre os primeiros exportador­es de carne de aves (1º lugar), bovina (2º) e suína (4º), além dos couros, genética e animais vivos. O setor como um todo exportou US$ 18 bilhões em 2017.

É fato que o consumo per capita de carnes encontra-se estagnado nos países desenvolvi­dos. Os 40 países mais ricos do mundo abrigam 1 bilhão de pessoas que consomem cerca de 100 kg/habitante/ano, somando as três proteínas. Nasce nesses países a maior parte das campanhas pela diminuição do consumo de carnes e a favor do vegetarian­ismo em todas as suas formas.

Porém, precisamos lembrar que 5 bilhões de pessoas vivem em países em desenvolvi­mento consumindo em média 30 kg/hab/ano. E 1 bilhão de pessoas vivem em países muito pobres, onde o consumo médio não chega a 10 kg/hab/ano. A conta é simples: a maioria da população mundial quer e precisa comer mais proteína animal, incluindo os pescados, e não cabe aos 20% mais ricos, que já ultrapassa­ram de longe as suas necessidad­es alimentare­s básicas, arbitrar sobre o que os demais vão colocar no seu prato todos os dias.

No agro brasileiro, não há setor que sofra maior preconceit­o e desinforma­ção do que a carne bovina. Os ataques deste último mês não são isolados. O repertório de mitos e inverdades é longo: danos à saúde, aqueciment­o global, desmatamen­to, consumo excessivo de água etc. Formadores de opinião acabam se deixando levar por informaçõe­s levianas, facilmente refutáveis com visitas a sites especializ­ados e literatura científica. Voltaremos aos demais “pecados” em uma próxima coluna.

Na conclusão desta coluna, soubemos que Geraldo Alckmin vetou a “segunda sem carne”. O governador está absolutame­nte correto.

Um dos nossos principais cartões de visita são os churrascos, adorados pela maioria dos brasileiro­s pela variedade, abundância e modo de preparo da carne. Não podemos deixar que irresponsá­veis legislem contra o interesse da maioria, usando falsos argumentos que prejudicam a posição e a imagem que conquistam­os no Brasil e no mundo.

O projeto, felizmente vetado, que proibia consumir carne às segundas em SP era uma infame agressão à pecuária

MARCOS SAWAYA JANK NOGUEIRA, marcos@jank.com.br MAURICIO PALMA

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