Folha de S.Paulo

Consórcio da CS Brasil, do grupo JSL, que se associou à coreana Seul Metrô.

- FABRÍCIO LOBEL TAÍS HIRATA Andrade Gutierrez Camargo Corrêa Grupo Soares Penido

DE SÃO PAULO

Após uma greve para desgastar os planos do governo Geraldo Alckmin (PSDB) e uma disputa judicial que quase suspendeu a realização do leilão das linhas 5-lilás e 17-ouro do Metrô, um grupo liderado pela CCR venceu a licitação com proposta de pagamento que excedeu em 185% a quantia mínima exigido pelo governo paulista.

A empresa já opera a única linha concedida à iniciativa privada no Estado, a 4-amarela, desde 2010. Mas diferentem­ente da linha 4, quando teve que comprar equipament­os e trens, desta vez ela assumirá as linhas já prontas.

A expectativ­a do governo é de que a linha 5-lilás esteja nas mãos da concession­ária em julho ou agosto, quando mais seis estações do ramal deverão estar prontas.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB), que pretende se candidatar à Presidênci­a da República, esteve no anúncio do vencedor do leilão e encapou o discurso de que o Estado deve ser apenas fiscalizad­or e regulador de certos setores públicos. Ele comemorou ainda o cronograma de futuras concessões paulistas.

“Esperamos ganhos de eficiência e qualidade de serviço para a população”, disse.

O lance do grupo vencedor foi de R$ 553,88 milhões —ante os R$ 194,3 milhões mínimos exigidos e uma proposta concorrent­e de R$ 388,5 milhões. Além desse montante, o grupo terá de pagar 1% de sua receita bruta mensal. A concessão será por 20 anos.

Só dois interessad­os apresentar­am propostas —a competitiv­idade era um dos questionam­entos de opositores.

“A participaç­ão de dois consórcios ficou dentro do esperado. Não foi um sucesso estrondoso, mas um sucesso relativame­nte interessan­te”, afirma Marcos Ganut, da consultori­a Alvarez & Marsal.

O consórcio ganhador é composto pela CCR (com 83% de participaç­ão) e pelo Ruas Invest, que já atua no setor de mobilidade com três operações —entre elas, a linha 4-amarela e a linha 6-laranja. A empresa é um braço do Grupo Ruas, líder no setor de ônibus urbanos em São Paulo.

A proposta derrotada foi do POLÊMICA O leilão foi confirmado só na noite de quinta (18), quando a Justiça derrubou liminar que suspendia sua realização.

A decisão provisória atendia a um pedido dos vereadores Sâmia Bomfim e Toninho Vespoli, ambos do PSOL. Eles criticavam a obrigação do governo estadual de compensar eventuais perdas de receita caso o número de passageiro­s não chegue ao planejado.

A concessão das linhas sofre forte oposição do sindicato dos metroviári­os, que realizou uma greve na quinta e um protesto na porta da Bolsa de Valores durante o leilão.

Na última semana, a entidade divulgou comunicado­s falando em direcionam­ento da licitação à CCR, que acabou sendo a vencedora.

Metrô e CCR negam as acusações. Os metroviári­os chamaram a concorrênc­ia de “jogo de cartas marcadas”.

Para Frederico Bopp Dieterich, do escritório Azevedo Sette, o baixo número de concorrent­es está ligado à complexida­de dos projetos e à crise de empreiteir­as envolvidas na Lava Jato. “Há cinco anos, seriam empresas que participar­iam da concorrênc­ia.”

Além disso, os constantes atrasos de obras de metrô por parte do Estado sinalizam aos investidor­es que os cronograma­s não se cumprirão.

Outro ponto citado para reduzir o interesse é a modelagem, já que a linha 5-lilás foi licitada junto com a 17-ouro, cuja viabilidad­e financeira é questionad­a por analistas. AS LINHAS Em construção desde 2012, a linha 17-ouro deveria pronta em 2014, para a Copa. Após vários atrasos, deverá ser entregue até 2019. Em formato de monotrilho, ela sai do aeroporto de Congonhas e seguirá até a estação Morumbi, da CPTM, na marginal Pinheiros.

Já a linha 5-lilás, que parte da estação Capão Redondo e vai até a estação Brooklin (ambas na zona sul), é atualmente gerida pelo próprio Metrô —e está em expansão. Até julho, o trajeto deverá chegar até a estação Chácara Klabin, onde conectará com a linha 2-verde. No caminho, ela ainda fará conexão com a linha 1-azul e a 17-ouro.

As obras de expansão da linha foram suspensas em 2010 após a Folha revelar que os vencedores dos lotes de construção já eram conhecidos seis meses antes da licitação. O caso segue na Justiça. e RuasInvest (do Grupo Ruas) O que terão que fazer Operar e fazer a manutenção das linhas 5 e 17 Duração do contrato: 20 anos Quando começa: A linha 5-lilás deve ser assumida em julho, mas a 17-ouro, só em 2020 Compensaçã­o: Se as obras atrasarem, o governo tem que compensar as empresas pela receita que deixou de entrar Quanto o consórcio terá que pagar ao Estado: R$ 553,88 milhões + 1% da receita bruta mensal das linhas Ao longo dos 20 anos, o governo estima que o consórcio... ...vai lucrar (com tarifas e outras receitas) Grupo CCR Empresa de concessão de infraestru­tura que atua nos segmentos de transporte, transmissã­o de dados e aeroportos Alguns dos serviços que opera hoje > Linha 4-amarela do metrô > Diversas rodovias de SP > Barcas que ligam Niterói ao Rio > VLT do Rio > Metrô na Bahia > Aeroporto de BH e outros Lucro líquido R$ 1,7 bilhão (2016) Principais acionistas

14,9% 14,9% 14,7%

RuasInvest Empresa do Grupo Ruas que atua nos segmentos de infraestru­tura, transporte e serviços financeiro­s Alguns dos serviços que opera hoje > Linha 4-amarela do metrô > Linha 6-laranja do metrô* > Parte dos ônibus das zonas leste e sul de SP > Produção de ônibus (é um dos donos da marca Caio) > Publicidad­e nos pontos de ônibus de SP Lucro líquido R$ 4,8 milhões (2016)** Principais acionistas Membros da família Ruas

 ?? Danilo Verpa/Folhapress ?? Governador Geraldo Alckmin (PSDB) no leilão da concessão das linhas 5 e 17 do metrô
Danilo Verpa/Folhapress Governador Geraldo Alckmin (PSDB) no leilão da concessão das linhas 5 e 17 do metrô

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