Folha de S.Paulo

Atropelado­r de Copacabana mentiu não ter epilepsia ao renovar a CNH

Após atingir 18 e matar bebê de 8 meses, na quinta (18), ele disse ter sofrido crise da doença

- LUCAS VETTORAZZO SÉRGIO RANGEL

Antonio Anaquim dirigia com habilitaçã­o suspensa; doença não veta CNH, mas é preciso comprovar tratamento

O motorista que atropelou dezenas de pessoas e matou um bebê de oito meses em Copacabana, zona sul do Rio, na noite de quinta-feira (18), afirmou ao Detran (Departamen­to Estadual de Trânsito) que não tinha doença neurológic­a. Após o departamen­to abrir processo de suspensão de sua habilitaçã­o em 2014, no ano seguinte, ao renovar a CNH, ele mentiu ao órgão.

Na noite do atropelame­nto, Antonio de Almeida Anaquim, 41, alegou à polícia que sofreu um ataque epilético antes de invadir o calçadão na avenida Atlântica. O motorista perdeu a direção, subiu na ciclovia, atravessou o calçadão e só parou na areia.

Uma passageira que o acompanhav­a no carro afirmou em depoimento à polícia que Anaquim sofreu “um apagão” e ficou “enrijecido” segundos antes de invadir o calçadão. O nome da mulher foi mantido em sigilo pelo delegado responsáve­l pela investigaç­ão, Gabriel Ferrando.

A mulher chegou a fugir após a batida, mas se apresentou na delegacia horas depois. Segundo o delegado, ela alegou medo de sofrer uma violência ao deixar o local.

Exames preliminar­es apontam que o motorista não esta- va alcoolizad­o. Remédios para epilepsia foram encontrado­s no carro de Anaquim, um Hyundai i30, preto.

O Detran explica que pessoas com epilepsia podem ter carteira de habilitaçã­o. Contudo, elas precisam passar por uma avaliação neurológic­a, e o exame médico terá validade menor, dependendo do resultado da análise.

“No caso do acidente, o motorista Antonio de Almeida Anaquim, durante seu exame de validação médica, negou ter qualquer doença neurológic­a, inclusive epilepsia”, explica o órgão.

De acordo com o DetranRJ, o formulário sobre questões médicas para a renovação da CNH é auto-declaratór­io. Em caso de a pessoa alegar ter epilepsia, é preciso apresentar um laudo médico que confirme que está há pelo menos um ano sem crises.

A partir daí, uma equipe médica do Detran emite um laudo avaliando a capacidade de dirigir, além de estabelece­r um prazo de validade para a CNH, geralmente menor do que os cinco anos normais.

À polícia, Anaquim afirmou que a primeira crise foi aos 12 anos, que o último ataque epilético havia sido há três anos e que controla a doença com remédios diários.

As pessoas que usam medicament­o para a doença precisam ter plena aderência ao tratamento, segundo resolução do Conatran (Conselho Nacional de Trânsito). É comum que CNH sejam negadas a pessoas com epilepsia.

“A princípio a epilepsia e o fato de usar medicament­os antiepilép­ticos não incompatib­ilizarão

 ?? Ricardo Moraes/Reuters ?? Antonio de Almeida Anaquim, 41, deixa 12ª Delegacia de Polícia, em Copacabana, onde prestou depoimento; ele disse ter sofrido crise de epilepsia
Ricardo Moraes/Reuters Antonio de Almeida Anaquim, 41, deixa 12ª Delegacia de Polícia, em Copacabana, onde prestou depoimento; ele disse ter sofrido crise de epilepsia
 ?? Lucas Landau/Reuters ?? Equipes do Corpo de Bombeiros retiram feridos após atropelame­nto na noite de quinta-feira (18), em Copacabana
Lucas Landau/Reuters Equipes do Corpo de Bombeiros retiram feridos após atropelame­nto na noite de quinta-feira (18), em Copacabana

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil