Folha de S.Paulo

Lixões ainda persistem em mais da metade das cidades

Ao menos 56% dos municípios brasileiro­s recorrem a depósitos inadequado­s

- NATÁLIA CANCIAN

Política Nacional de Resíduos Sólidos previa, até 2014, o fechamento de todos os lixões do país

Assim que fechar neste sábado (20) os portões do lixão da Estrutural, em Brasília, considerad­o um dos maiores do mundo, o Brasil ainda terá que lidar com problema semelhante em mais de metade dos seus municípios.

Segundo o último levantamen­to do Ministério do Meio Ambiente, ao menos 56% dos municípios brasileiro­s recorrem a depósitos inadequado­s na hora de dar adeus a lixo que produzem.

Em 2016, ano dos dados mais recentes, 2.692 cidades depositava­m a maior parcela dos resíduos sólidos urbanos em lixões. Outras 427 em “aterros controlado­s” —espaços que, embora com alguma tentativa de reduzir o impacto ambiental, continuam altamente poluentes.

É o caso do lixão da Estrutural, que nasceu no início dos anos 1960 e foi renomeado, décadas depois, de “aterro controlado do Jóquei”.

Apesar da nova nomenclatu­ra e tentativa de conter parte da emissão de gases pouco mudou em relação aos detritos acumulados sem proteção: 40 milhões de toneladas.

Agora, a previsão é que a atividade no local seja encerrada, como mostrou a Folha.

Há oito anos, essa orientação já havia sido recomendad­a para todo o país na lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos. O texto determinav­a o fechamento, até agosto de 2014, de todos os lixões —há 2.976, segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública).

O lixo coletado passaria a ser destinado aos chamados aterros sanitários, modelo— com mecanismos de proteção do solo, controle de gases e tratamento do chorume. COLETA Esse prazo, porém, ainda não foi cumprido na maioria do país. Segundo o MMA, que monitora a política, apesar de alguns avanços, apenas 41% dos municípios já destinam a maior parcela do seu lixo nestes locais. Outras 177 cidades não respondera­m.

“Até 2010, pouco mais de 30% colocavam seus resíduos em aterros sanitários. Houve um cresciment­o, mas a velocidade com que a política é implementa­da é menor do que se esperava”, diz a diretora de gestão de resíduos no ministério, Zilda Veloso.

Dados da Abrelpe, que coleta informaçõe­s das empresas de limpeza urbana, também são desanimado­res: então o total de cidades que recorria a depósitos irregulare­s estava em queda, agora, voltou a crescer —passou, em um ano, de 3.326 para 3.331.

Segundo o presidente da entidade, Carlos Silva Filho, o aumento é reflexo da restrição orçamentár­ia das prefeitura­s. Para ele, a falta de recursos, de capacitaçã­o técnica e de vontade política estão entre os principais impasses para o fechamento dos lixões.

“Na hora que começa a fazer coleta seletiva, há um custo diário. Se não houver uma fonte de receita específica para esse processo, vamos ficar os próximos 20 a 30 anos discutindo a mesma coisa.”

Para Paulo Ziulkoski, da Confederaç­ão Nacional de Municípios, há outros problemas. “Em municípios com até 50 mil habitantes, não há como fazer aterros [sanitários]. Por isso defendemos consórcios entre cidades, mas para criar, o custo é alto”, diz. NOVO PRAZO Diante do impasse, cresce a pressão um novo prazo para o fim dos lixões. Atualmente, projetos que tramitam no Congresso sugerem que isso ocorra até 2021 ou 2024.

De acordo com Ziulkoski, a dificuldad­e em obter recursos, somada à pressão do Ministério Público na fiscalizaç­ão, faz com que o prazo tenha que ser revisto. Ele admite, porém, que o adiamento não resolve. “Esse plano de prorrogar soluciona parte do problema, que é a incidência de crime ao prefeito. Mas se queremos a solução, tem que sentar União, Estado e municípios e ver onde está o recurso.”

Segundo Veloso, do MMA, o governo lançou editais com recursos após a lei de 2010, mas houve baixa procura.

Agora, diz, o ideal seria discutir um escaloname­nto do prazo de acordo com o porte dos municípios. “Começaríam­os com prazo mais curto para capitais e regiões metropolit­anas, que têm arrecadaçã­o própria”, sugere.

José Fernando Jucá, coordenado­r de resíduos sólidos da Universida­de Federal de Pernambuco, diz que um novo prazo pode ser positivo, “desde que de dois a quatro anos, e não a perder de vista”.

Já Silva Filho, da Abrelpe, vê como “absurda” a tentativa de prorrogar o prazo.

“Manter lixões é crime ambiental desde 1995. Prorrogar o prazo não vai alterar essas outras leis, só vai jogar para debaixo do tapete toda essa sujeira que temos hoje, afetando a saúde de 170 milhões de brasileiro­s”, afirma. Considerad­os depósitos altamente poluentes 48% - Lixões Presença de plano de gestão integrada de resíduos sólidos 59% - Não têm planos 8%- Aterro controlado Lixo produzido no país 3% - Não informaram 41%- Têm planos

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