Folha de S.Paulo

ENTREVISTA Parceria públicopri­vada na área da saúde não funciona

EX-DIRETOR DO INSTITUTO BUTANTAN FALA DE SUA TRAJETÓRIA CIENTÍFICA E DO DESAFIO DE CRIAR UMA INDÚSTRIA NACIONAL DE VACINAS

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Eu desafiei o cartel das quatro grandes empresas que dominam o mercado de vacinas do mundo. O Butantan passou a ter um prestígio

Folha - O sr. sempre se aventurou fora do laboratóri­o. Pode contar um pouco dessa trajetória?

Isaías Raw -Sempre me meti com aquilo que não era a minha obrigação profission­al. Na universida­de percebi a necessidad­e de mudar o ensino. Aula no quadro negro não serve para ensinar ciência. O que um aluno precisa é aprender a ler, estudar e entender o conteúdo dos livros e dos artigos.

Nas décadas de 1950 e 1960, os professore­s não se comunicava­m. Um não sabia o que o outro dava no seu curso. Muitas vezes eram dados conteúdos contraditó­rios. Se você não ensina a observar e tirar conclusões, nunca vai formar cientistas. Por isso, criei o curso experiment­al de medicina na USP, onde acabamos com a ideia de que há uma série de compartime­ntos comandados cada um por um professor, tudo era ensinado junto.

Também ajudei a unificar os exames vestibular­es de São Paulo, mas logo isso foi liquidado, pois ia contra os interesses dos donos das faculdades. Criei ainda os minikits de química, eletricida­de e biologia que tiveram um impacto importante na vida de muitas pessoas que vieram a se dedicar à ciência, mas ele morreu também. Mesmo destino, aliás, do curso experi- Graduação em medicina pela Faculdade de Medicina da USP

Trajetória

Professor aposentado da USP, diretor do Instituto Butantan, (1991-1997), e presidente da Fundação Butantan, de 1998 a 2009. Foi também professor visitante no MIT e na Universida­de Harvard

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