Folha de S.Paulo

SE MEU APARTAMENT­O FALASSE...

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Chuck Baxter é até visto como garanhão pelos vizinhos, dado a movimentaç­ão de garotas em seu apartament­o. Mas o contador é mais um funcionári­o sem rosto dentro de uma grande corporação.

O personagem, protagonis­ta de “Se Meu Apartament­o Falasse” (1960), filme de Billy Wilder, acaba representa­ndo outra face do mundo corporativ­o em que vive, repleto de empresário­s que buscam “escapadas” com as amantes.

Famosa nos rostos de Jack Lemmon e Shirley MacLaine, a história depois ganhou o teatro, em 1968, em forma de musical (“Promises, Promises” no original), com adaptação de Neil Simon e canções de Burt Bacharach.

É a trama musicada —e acrescida de reticência­s ao fim do título— que chega a São Paulo neste domingo (21) em montagem da dupla Chales Möeller e Claudio Botelho, vinda de uma temporada no Rio.

Baxter, aqui vivido por Marcelo Medici, começa a história como um empregado entre tantos outros num escritório de Manhattan. Logo é coagido por colegas a lhes emprestar seu apartament­o para que levem as amantes, muitas funcionári­as da empresa.

Acaba aceitando, já que lhe prometem melhorias no emprego. Mas isso significa organizar a agenda de encontros e por vezes passar a noite na rua. E ele logo descobre que o imóvel é usado pelo chefão Jeff Sheldrake (Marcos Pasquim) para namorar a garçonete Fran Kubelik (Malu Rodrigues), por quem Baxter nutre uma paixão.

Tudo é visto de forma cômica e debochada, mas não deixa de ilustrar a misoginia daquele ambiente de trabalho, algo similar (apesar da diferença de tom) ao retratado na série “Mad Men”.

“Wilder vai no limite do que se poderia à época, faz uma caricatura dos executivos, quase como cachorros no cio”, diz Möeller. “Ele vai contra a corrente da mocinha óbvia. Fran nunca é idiota.”

Baxter, por sua vez, apesar de mocinho tem suas nuances, afirma Medici. “Ele é apaixonado, mas ambicioso. Tem interesses no trabalho.”

Para Möeller, Simon acrescento­u novas camadas críticas à trama, como uma secretária que, após ser preterida pelo patrão e amante, consegue confabular contra ele.

A história é embalada pelas composiçõe­s um tanto “amargas”, como define Botelho, de Bacharach —sua única criação no teatro musical.

São tempos quebrados, que por vezes soam mais narrados do que cantados. “É super fácil e assobiável para o ouvinte. Mas tem quantidade de compassos que não é esperada”, explica Botelho, que assina a versão brasileira.

Entre as canções, há a clássica “I Say a Little Prayer”, famosa na voz de Aretha Franklin. E a dupla brasileira incluiu na sua montagem “Close to You”, cantada no original por Malu Rodrigues. OLÍMPICA Möeller e Botelho nutrem há sete anos o projeto com a atriz Maria Clara Gueiros, que faz o pequeno (mas cômico) papel da desmiolada que Baxter encontra num bar. Apesar disso, a montagem foi levantada num prazo curto, cerca de um mês antes da estreia (musicais costumam ter ao menos dois meses de ensaio).

O espetáculo —autorizado a captar R$ 6,3 milhões via Lei Rouanet, mas que até agora só conseguiu pouco menos da metade do valor— já entrava em seu terceiro ano de compra de direitos autorais.

“A gente estava tão desesperad­o. Queríamos fazer nem que fosse uma montagem em concerto, com o elenco cantando as músicas”, diz Möeller. Foi quando surgiu uma agenda para o fim do ano passado no Teatro Bradesco Rio.

Pela pressa, foi montada uma oficina embaixo do palco para criar cenário e figurino. No intervalo de ensaios, os atores encaixavam as provas de roupas, lembra o encenador. “Foi uma coisa olímpica.”

MARIA LUÍSA BARSANELLI QUANDO qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h; de 21/1 até 18/2 (não haverá sessões de 8 a 11/2) ONDE Teatro Santander, complexo do Shopping JK Iguatemi, av. Presidente Juscelino Kubitschek, 2041, tel. (11) 4003-1212 QUANTO R$ 50 a R$ 190 CLASSIFICA­ÇÃO 12 anos

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