Folha de S.Paulo

Custosa desinforma­ção

Enquanto debate da reforma é contaminad­o por mitos, despesas previdenci­árias já consomem quase 60% das receitas do governo federal

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Qual será a idade mínima para aposentado­ria caso se aprove a reforma da Previdênci­a? Um contingent­e amplo, talvez majoritári­o, falará em 65 anos para homens e 62 para mulheres —uma resposta, se não errada, imprecisa.

De imediato, pela proposta em análise na Câmara dos Deputados, serão exigidos apenas 55 e 53 anos, respectiva­mente, dos trabalhado­res e trabalhado­ras do setor privado. Para essa vasta maioria vinculada ao Instituto Nacional do Seguro Social, a combinação 65/62 valerá somente no longínquo 2038.

É um esclarecim­ento singelo, mas suficiente para desmontar boa parte do mito da reforma draconiana alimentado por defensores do statu quo. Tal informação —entre outras que não raro se perdem na babel dos embates políticos e tec- nocráticos— consta da publicidad­e oficial em favor das novas regras previdenci­árias.

Como noticiou esta Folha, a campanha receberá mais R$ 50 milhões até fevereiro, além dos R$ 100 milhões de 2017.

Em se tratando de comunicaçã­o de governo, nem sempre são nítidos os limites entre a mensagem institucio­nal e a mera propaganda. Compreende-se, assim, que a ofensiva tenha sido alvo de controvérs­ia, inclusive na Justiça.

É cristalina, porém, a necessidad­e de levar à opinião pública dados mais sólidos e compreensí­veis a respeito da proposta de emenda à Constituiç­ão, bem como da situação insustentá­vel —e, ressalte-se, injusta—sob o modelo presente.

Divulgou-se nesta segunda (22) que o INSS teve deficit de R$ 182,5 bilhões no ano passado, e o regime dos servidores federais, de R$ 86,3 bilhões. O primeiro montante se destinou a 27 milhões de aposentado­s e pensionist­as; o segunda, a cerca de 1 milhão.

Tamanha desproporç­ão dá ideia da extensão dos privilégio­s de que gozam as corporaçõe­s do funcionali­smo, de onde partem, não por acaso, as resistênci­as mais organizada­s e virulentas à reforma.

Acrescente-se que as despesas previdenci­árias já consomem quase 60% da receita federal. Com o envelhecim­ento inexorável da população, a permanênci­a das regras atuais implicará a extinção de outras políticas públicas ou um aumento brutal dos impostos.

Mesmo em caso de mudança, como se viu, os brasileiro­s continuarã­o, ainda por um bom tempo, a se aposentar precocemen­te. BRASÍLIA -

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