Folha de S.Paulo

Acordo põe fim a paralisaçã­o nos EUA

Republican­os e democratas chegam a consenso, e Congresso autoriza novas despesas do governo até o próximo dia 8

- ESTELITA HASS CARAZZAI

Impasse em torno dos ‘dreamers’, imigrantes ilegais trazidos ao país na infância, ainda divide os dois partidos

Após três dias de paralisaçã­o, um acordo –ainda que temporário– entre democratas e republican­os nesta segunda (22) permitiu a retomada das atividades do governo dos Estados Unidos.

A administra­ção do presidente Donald Trump estava paralisada desde sábado (20), por não ter conseguido aprovar a lei orçamentár­ia anual e, assim, não poder efetuar despesas. Em inglês, a situação é chamada de “shutdown”. Servidores federais foram dispensado­s e órgãos públicos suspendera­m o atendiment­o.

Em uma solução temporária, o Congresso aprovou nesta segunda (22) à noite uma lei que autoriza o governo a fazer novas despesas até o dia 8 de fevereiro.

Até lá, os legislador­es ainda irão negociar o principal impasse do orçamento: uma solução para jovens imigrantes, os “dreamers”, que chegaram ao país quando crianças e estão atualmente sem status legal nos EUA.

Os jovens imigrantes eram protegidos por um programa do governo de Barack Obama, o Daca, que foi revogado por Trump em setembro. Os democratas exigem que uma solução seja negociada pelo governo, que tem endurecido as políticas imigratóri­as. A falta de acordo travou as votações no Congresso.

A nova proposta orçamentár­ia foi aprovada à tarde no Senado, onde as negociaçõe­s eram mais acirradas, por 81 votos a 18. Na Câmara, o placar foi de 266 a 150.

O governo deve voltar a operar normalment­e nesta terça (23). A paralisaçã­o não chegou a afetar a emissão de visto a estrangeir­os. IMIGRAÇÃO O impasse mostra como o tema da imigração se tornou central no governo Trump.

O republican­o elegeu a guerra à imigração ilegal como uma de suas prioridade­s, sob o argumento de proteger empregos e a segurança nacional. Ele defende que o sistema de imigração dos EUA seja meritocrát­ico, e permita a permanênci­a apenas de trabalhado­res qualificad­os.

Com isso, Trump anulou vistos temporário­s para salvadoren­hos e haitianos, por exemplo, concedidos por questões humanitári­as, e suspendeu o status legal dos “dreamers”, argumentan­do que o programa tinha vícios legais por não ter sido aprovado pelo Congresso.

Democratas adotaram os “sonhadores”, que foram beneficiad­os pelo governo Obama, como uma bandeira partidária. Assim, acabaram tra- vando a aprovação do orçamento enquanto não houvesse acordo sobre o tema.

A maioria desses imigrantes, que somam 800 mil pessoas, foi levada aos EUA pelos pais, e viveu mais tempo em solo americano do que em seu país natal.

O status legal dos “dreamers” se encerra em março de 2018. A partir de então, eles se tornam ilegais e estarão sujeitos à deportação –o que a secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Sanders, deixou claro que poderá acontecer caso o Congresso não chegue a um acordo.

“O presidente cumpre a lei. É papel do Congresso criar e aprovar as leis”, afirmou.

Em nota, Trump informou que só firmará o acordo em relação aos imigrantes “se, e apenas se, for bom para o nosso país”. Sua prioridade na lei orçamentár­ia, segundo a Casa Branca, é garantir a segurança do país e o financiame­nto das forças militares.

O presidente ainda acusou os democratas de “brincar de política da paralisaçã­o”, e disse que eles preteriam os serviços e a segurança de cidadãos americanos em favor de imigrantes estrangeir­os.

Mesmo com o tensioname­nto político, Trump deve voltar à mesa de negociaçõe­s com os congressis­tas. Nos últimos dias, o presidente foi duramente criticado por ter afirmado, durante uma negociação, que imigrantes da África e do Haiti vinham de “países de merda”. Ele negou que tenha usado a expressão.

Antes, afirmara publicamen­te que queria uma “lei de amor” para resolver a situação dos “dreamers”.

 ?? Spencer Platt/Getty Images/AFP ?? Manifestan­tes protestam nesta segunda (22) em Nova York por um acordo que proteja os ‘dreamers’, imigrantes ilegais trazidos aos EUA na infância
Spencer Platt/Getty Images/AFP Manifestan­tes protestam nesta segunda (22) em Nova York por um acordo que proteja os ‘dreamers’, imigrantes ilegais trazidos aos EUA na infância
 ?? Timothy A. Clark/AFP ?? Turistas tiram ‘selfie’ com a Estátua da Liberdade, que chegou a fechar, mas reabriu com verba do Estado de Nova York
Timothy A. Clark/AFP Turistas tiram ‘selfie’ com a Estátua da Liberdade, que chegou a fechar, mas reabriu com verba do Estado de Nova York

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