Folha de S.Paulo

Gol dribla TCU e inaugura voo SP-Pampulha via Juiz de Fora

- TATIANA VAZ

A fabricante sueca Saab pode rever seu contrato para fornecer caças Gripen à Força Aérea Brasileira se considerar que a eventual associação entre a americana Boeing e a brasileira Embraer coloca em risco segredos tecnológic­os de seu produto.

Segundo a Folha apurou, esse será o recado que a Saab dará nesta quinta (25) em reunião marcada com o ministro Raul Jungmann (Defesa). A delegação sueca será chefiada pelo presidente da empresa, Hakan Buskhe.

Em 2013, o avião sueco venceu uma longa concorrênc­ia internacio­nal contra o francês Dassault Rafale e o americano F/A-18, da Boeing.

O contrato foi assinado em 2014, e o financiame­nto, em 2015. Por 39,3 bilhões de coroas suecas (R$ 15,7 bilhões), entregará 36 aviões até 2024.

O pulo do gato foi a obrigatori­edade de transferên­cia de tecnologia para a FAB e empresas nacionais —capitanead­as pela Embraer, que produzirá parcialmen­te 8 e totalmente 15 dos aparelhos.

A objeção sueca de compartilh­ar procedimen­tos industriai­s e de integração de sistemas com os concorrent­es americanos eleva o cacife brasileiro na negociação, ainda que a interrupçã­o do contrato já em andamento seja altamente improvável.

A Embraer deixou de ser estatal em 1994, e 85% de seu controle está na mão de investidor­es estrangeir­os. Mas o governo mantém uma ação especial, chamada “golden share”, que lhe dá poder de veto a novos negócios.

O motivo é a interligaç­ão da fabricante com a FAB e outros setores estratégic­os. O governo é a favor de associaçõe­s, mas não aceita uma Embraer controlada pela Boeing.

Também quer entender como a empresa americana poderá ofertar salvaguard­as de soberania a seus projetos.

Os americanos apontam para o fato de Boeing e Saab serem sócias no desenvolvi­mento de um avião de treinament­o nos EUA como prova de que a questão não é intranspon­ível. Apresentam também alternativ­as, já que têm operação industrial na área de defesa no Reino Unido e na Austrália.

O governo ainda não se convenceu dessas opções, uma vez que a Embraer já é uma empresa estabeleci­da nos ramos comercial, executivo e militar, com forte indução tecnológic­a a partir de demandas do governo.

Uma separação de áreas é dificultad­a pelo entendimen­to de que a divisão de defesa da Embraer é um celeiro de inovação para a área civil.

A famosa linha regional ERJ-145 só saiu do chão porque antes a empresa aprendeu a lidar com aparelhos a jato subsônicos ao coproduzir o caça AMX com a Itália.

A concorrênc­ia vencida pelo Gripen emulava o desenho, e o sueco tinha como ativo o fato de a geração ofertada (chamada E/F) estar em desenvolvi­mento.

As negociaçõe­s continuam, com opções inicialmen­te rejeitadas pela Boeing, como a formação joint ventures específica­s, de volta à mesa.

A Boeing precisa da Embraer para fazer frente à rival europeia Airbus, que comprou a linha de aviões regionais da canadense Bombardier em outubro passado.

A brasileira é líder do nicho, e nenhum de seus outros competidor­es (Comac chinesa, Sukhoi russa ou Mitsubishi japonesa) é parceiro viável para os americanos.

Além disso, os brasileiro­s têm mão de obra qualificad­a à disposição para ajudar a desenvolve­r novos produtos.

Para a Embraer, a associação pode abrir praças e garantir sua saúde financeira futura, já que faz algo que a Boeing não produz, mas não tem como competir no mercado de aviões maiores.

A Gol fez uma manobra para voar do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, para Pampulha, em Belo Horizonte, a partir desta segunda (22), sem descumprir a decisão do TCU de suspender voos comerciais para o destino. Entre um trajeto e outro, o Boeing-737/700 da companhia fez uma conexão pela cidade mineira Juiz de Fora.

A estratégia ganhou o aval da Anac, agência reguladora, do Ministério dos Transporte­s e do TCU, que afirmou, em nota, “que a decisão (de suspensão) está sendo cumprida”. Pela regra, voos provenient­es de outros aeroportos só podem ser feitos para Pampulha se fizerem escala ou conexão em um aeroporto regional, que movimente até 600 mil passageiro­s por ano.

A Gol vendia passagens para o trajeto, mesmo ele estando suspenso, e chegou a programar uma festa para o primeiro pouso em Pampulha. Voltou atrás depois de o TCU emitir na quarta-feira (17) um despacho reforçando a suspensão, depois de ter barrado a reabertura, determinad­a pelo próprio governo, em dezembro do ano passado. No dia seguinte, foi a vez de o Conselho de Aviação Civil do ministério reafirmar a suspensão. A Gol, então, cancelou o voo inaugural para o destino.

Porém, agora, passa a ofertar dois voos diários entre Pampulha e Juiz de Fora, trajeto que dura meia hora e que será feito pela aeronave com capacidade de 138 passageiro­s.

A iniciativa abre espaço para que Latam, Avianca e Azul comecem a operar em Belo Horizonte por Pampulha. Por enquanto, nenhum pedido foi feito à Anac.

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Abhishek N. Chinnappa - 15.fev.17/Reuters Voo do caça Gripen, que terá unidades fabricadas no país

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