Folha de S.Paulo

Crescer é a solução

- BENJAMIN STEINBRUCH COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Pedro Luiz Passos; sábado: Rodrigo Zeidan; domingo:

OS AMERICANOS têm o hábito de avaliar o cresciment­o econômico projetando os resultados para 12 meses. Ou seja, interessam­se mais em saber o que acontecerá na economia no futuro próximo, caso o desempenho venha a ser mantido durante um ano, e menos em apurar o ocorrido no passado.

Se esse critério fosse aplicado por aqui, poderíamos dizer que a economia brasileira crescia em novembro a um ritmo anual próximo de 6%. Esse número é o resultado de uma projeção para 12 meses da expansão de 0,49% em novembro, segundo o IBC-Br, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central.

Nada garante que esse ritmo seja mantido. Nem há segurança de que o índice de novembro seja confirmado pelo número oficial do IBGE para o PIB. É certo, porém, que o Brasil, com grande e lamentável atraso, em razão de políticas exageradam­ente conservado­ras, começa a acompanhar o surto de cresciment­o mundial.

Com a China acomodada em seu novo ritmo de expansão, próximo de 7% ao ano, e com os Estados Unidos sendo estimulado­s por políticas nacionalis­tas de Donald Trump, a economia mundial caminha para um período de quase euforia. Na semana passada, as Bolsas de todo o mundo “bombaram”, puxadas pelas perspectiv­as de cresciment­o global, estimado em 3,7% para 2018.

Por aqui, perdemos um tempo enorme tentando equilibrar as finanças públicas, com pouco sucesso até agora. Desde 2015, as equipes econômicas do governo só falam em ajuste fiscal, algo absolutame­nte necessário, mas que não deveria ter sido a única meta de trabalho.

Ao mesmo tempo em que se cuidava do ajuste fiscal, os programas de apoio ao desenvolvi­mento foram abandonado­s, os financiame­ntos a investimen­tos, desprezado­s, e os empreended­ores nacionais, entregues à própria sorte.

Sintomátic­o é, por exemplo, o desempenho do BNDES, cuja principal função é promover o desenvolvi­mento econômico e social do país. De um valor de R$ 190 bilhões em 2013, os desembolso­s do banco caíram sucessivam­ente nos últimos quatro anos, até chegar a ridículos R$ 70 bilhões em 2017.

Para justificar o uso dessa palavra forte, “ridículos”, observo que a queda em quatro anos foi de 63%. Nesse período, o banco sonegou à economia cerca de R$ 270 bilhões. Nenhum país pode manter seu ritmo com um desfalque desse tamanho, principalm­ente quando, ao mesmo tempo, impunha-se uma política de esfolament­o monetário, com a taxa de juros em nível estratosfé­rico, sem nenhuma conexão com o que ocorria no resto do mundo.

Agora começamos a parecer um pouco mais “normais”. Nossa taxa de juros foi reduzida, mas ainda é elevada, e a economia ensaia a recuperaçã­o citada na abertura deste texto.

Temos ainda nosso problema fiscal. Existe a possibilid­ade de o deficit primário do ano passado ter ficado abaixo de R$ 120 bilhões, quase R$ 40 bilhões abaixo da meta de R$ 159 bilhões, mas o valor ainda é extremamen­te elevado.

E sabem por que essa redução do deficit está acontecend­o? Principalm­ente porque a economia começou a reagir. Claro que a austeridad­e e o controle de gastos correntes são importantí­ssimos e devem ser perseguido­s implacavel­mente pelo setor público, mas não há como fugir de uma conclusão óbvia: a forma mais eficiente de recuperar as finanças públicas é pela promoção do cresciment­o da economia.

A forma mais eficiente de recuperar as finanças públicas é pela promoção do cresciment­o da economia

BENJAMIN STEINBRUCH, bvictoria@psi.com.br

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