Folha de S.Paulo

Temos que estar preparadas para dizer ‘não’, pegar a bolsa e ir embora

- MARILIZ PEREIRA JORGE

FOLHA

No século 21, sexo parece ser algo muito precioso, no qual o homem ainda figura como o predador e a mulher é a caça. Muitas mulheres parecem pouco preparadas para se defender, para dizer “não”, para lidar com tipos inconvenie­ntes e situações que se revelam roubadas.

Não falo de tarados, pervertido­s, violentos, estuprador­es, que devem ser denunciado­s, mas de inúmeros outros caras decentes com que a gente topa sair para jantar, tomar um drinque, trocar beijos ou transar. A maioria deles não têm o menor talento para o jogo da sedução, não sabem como agir e agradar uma mulher empoderada.

Onde estão elas (e seus superpoder­es) na hora de dizer “não” e pedir um Uber, se o fulano se revelou muito afoito, se é grosseiro, se tem bafo, se sexo não é opção?

É ingenuidad­e esperar que homens saibam o que uma mulher quer num encontro —até porque mulheres são diferentes. É puritanism­o que tenha gente que ache um absurdo que homens levem mulheres para suas casas e queiram transar. Oh, Deus, ele só queria me comer.

E causa muito estranhame­nto o argumento de que as mulheres são criadas para agradar. Mulheres foram criadas desde sempre para dizer “não” quando o assunto é sexo. Não beije, não deixe passar a mão, não transe. Você vai ficar com fama de vagabunda.

Esse pensamento de que eles são todos iguais e que todo encontro, por mais desagradáv­el que seja, merece ser exposto e julgado, só serve para colocar a mulher nesse papel de coadjuvant­e nas relações. Temos que estar preparadas para dizer “não”, pegar a bolsa e ir embora. Ou ficar e ter maturidade para saber que as coisas podem sair diferente do esperado.

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