Aziz Ansari e Grace exemplificam comportamentos anacrônicos
FOLHA
Aziz Ansari, estrela de Hollywood, é o acusado da vez por assediar sexualmente uma jovem fotógrafa chamada Grace (nome fictício). Como vivemos num momento em que temos que ter opinião pronta sobre tudo, mesmo com pouca informação, a forca já está sendo levantada antes do tribunal se instalar.
Trata-se de um evento entre quatro paredes, sobre o qual não temos condição de arbitrar, mas talvez possamos refletir. Se tiver sido como Grace tornou público, o que poderíamos deduzir?
Primeiro, que Aziz é um homem inconveniente que só queria transar (algumas mulheres também só querem transar e não há problema nisso, OK?), mas que é tão insincero e ruim no trato que se deu mal. Tipo asqueroso e comum, de quem as mulheres se queixam com razão.
Segundo, que Grace é uma mulher que se deixa levar pela insistência, querendo acima de tudo agradar, incapaz de sair de uma situação que, embora desagradável, não envolveu qualquer tipo de ameaça aparente que justificasse sua permanência.
Talvez a ameaça de desagradar seja seu maior algoz, pois embora pudesse ter dito não, parece não ter conseguido. Se foi assim, infelizmente, Grace e Aziz exemplificam comportamentos anacrônicos e recorrentes.
O que subjaz à luta pelo reconhecimento e punição aos crimes contra mulheres é uma nova expectativa de comportamento dos homens, mas também das mulheres. Se estamos implicados na mudança do contrato sexual, comecemos a pensar como nossas filhas têm sido educadas para a subordinação e a necessidade compulsória de agradar e como nossos meninos são assombrados com o risco de serem chamados de “bananas”.