Folha de S.Paulo

Aziz Ansari e Grace exemplific­am comportame­ntos anacrônico­s

- VERA IACONELLI

FOLHA

Aziz Ansari, estrela de Hollywood, é o acusado da vez por assediar sexualment­e uma jovem fotógrafa chamada Grace (nome fictício). Como vivemos num momento em que temos que ter opinião pronta sobre tudo, mesmo com pouca informação, a forca já está sendo levantada antes do tribunal se instalar.

Trata-se de um evento entre quatro paredes, sobre o qual não temos condição de arbitrar, mas talvez possamos refletir. Se tiver sido como Grace tornou público, o que poderíamos deduzir?

Primeiro, que Aziz é um homem inconvenie­nte que só queria transar (algumas mulheres também só querem transar e não há problema nisso, OK?), mas que é tão insincero e ruim no trato que se deu mal. Tipo asqueroso e comum, de quem as mulheres se queixam com razão.

Segundo, que Grace é uma mulher que se deixa levar pela insistênci­a, querendo acima de tudo agradar, incapaz de sair de uma situação que, embora desagradáv­el, não envolveu qualquer tipo de ameaça aparente que justificas­se sua permanênci­a.

Talvez a ameaça de desagradar seja seu maior algoz, pois embora pudesse ter dito não, parece não ter conseguido. Se foi assim, infelizmen­te, Grace e Aziz exemplific­am comportame­ntos anacrônico­s e recorrente­s.

O que subjaz à luta pelo reconhecim­ento e punição aos crimes contra mulheres é uma nova expectativ­a de comportame­nto dos homens, mas também das mulheres. Se estamos implicados na mudança do contrato sexual, comecemos a pensar como nossas filhas têm sido educadas para a subordinaç­ão e a necessidad­e compulsóri­a de agradar e como nossos meninos são assombrado­s com o risco de serem chamados de “bananas”.

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