Folha de S.Paulo

Em Sundance, Aly Muritiba fala do universo adolescent­e

Ex-professor de ensino médio, além de agente penitenciá­rio, diretor lança ‘Ferrugem’ em festival independen­te americano

- FERNANDO GROSTEIN ANDRADE

Não vivi os anseios e dramas que os adolescent­es [de hoje] têm, maximizado­s pelo universo virtual. Então o filme serviu para que eu me reconectas­se com eles,com o adolescent­e que eu fui e com meu filho

FOLHA,

Ex-professor de história e agente penitenciá­rio, Aly Muritiba lança no Festival de Sundance o filme “Ferrugem”, com Giovanni de Lorenzi e Tifanny Dopke, no qual revela a história de uma adolescent­e que tem um vídeo íntimo vazado pelo WhatsApp e, a partir daí, vê sua vida ser revirada.

Pai de um jovem 14 anos, o diretor mergulhou no mundo real e virtual dos adolescent­e, distancian­dose ainda mais do universo do cárcere, com o qual fez fama. Folha - Como surgiu a ideia de um filme adolescent­e?

Aly Muritiba - Além de agente penitenciá­rio, fui professor de historia de ensino médio, então me relacionei bastante com adolescent­es. Há dois anos, meu filho estava com 12 anos e eu comecei a ver a adolescênc­ia surgir em casa. Comecei a observar o quanto as redes sociais estavam presentes na vida dele. Tenho 38 anos, não vivi os anseios e dramas que os adolescent­es [de hoje] têm, maximizado­s pelo universo virtual. Então o filme serviu para que eu me reconectas­se com eles, com o adolescent­e que eu fui um dia e com o meu filho. Seu filho colaborou de alguma forma?

Meu filho é um leitor [meu] de muito tempo e reclama que as coisas que eu faço são tristes. “Pô, quando você vai fazer um filme legal e que a gente dê risada?” (Risos) Então a gente leu e conversou bastante. O longa foi filmado no colégio onde ele está até hoje e ele viu o processo de montagem, e opinava. A gente sente a pulsação da internet no filme, os efeitos, o “joinha”, os comentário­s...

Desde sempre a gente conversou e achou que o filme tinha que ter um ritmo ligeiro e que tivesse a ver com o

ALY MURITIBA

diretor de “Ferrugem”, exibido no Festival de Sundance que é o mundo virtual. [Eles] conseguem pensar e dar atenção a vários assuntos ao mesmo tempo. A concentraç­ão deles é diferente da minha, é mais dispersa, mas, ao mesmo tempo, abarca um número a mais de informaçõe­s. Então essa história de colocar no filme memes, aplicativo­s, já vinha de uma pesquisa que eu e a roteirista fizemos, para dar conta desse universo. O filme esta revelando dois jovens atores adolescent­es...

Sim, um deles é o Giovanni [de Lonrenzi], que está na novela “Deus Salve o Rei” (Globo) e não pôde vir porque está gravando. É um ator de uma maturidade difícil de encontrar num rapaz de tão pouca idade. Se tem uma coisa que eu gosto de fazer no cinema é o processo com atores, então, não abro mão de uma pré-produção longa. E o Giovanni foi de uma entrega intensa. Foram 45 dias de oficina para prepará-lo para o personagem que é bastante denso. Como foi a transição de agente penitenciá­rio para cineasta?

É tudo muito recente. Eu comecei a fazer filmes em 2008, quando fazia faculdade de cinema. E nesse período eu já trabalhava na cadeia, fui fazer a faculdade muito mais como válvula de escape daquele ambiente opressor. Eu imaginava que cinema era algo mais lúdico. Na faculdade comecei a fazer os primeiros curtas e gostei da ideia. E foi justamente fazendo filmes da cadeia que eu comecei a me destacar e vislumbrar a possibilid­ade de deixar a cadeia para fazer cinema, em 2013, quando eu estava rodando meu primeiro longa. Todo mundo pode fazer cinema?

Todo mundo pode filmar. E todo mundo filma. Isso é bom. Porque todo mundo adquire uma certa gramática, para fazer audiovisua­l e comunicar suas ideias. Agora, fazer cinema são outros quinhentos. Todo mundo pode fazer cinema, mas não sei se todo mundo deve fazer cinema. Porque tem gente que acha que pode, acha que faz, mas não faz. FERNANDO GROSTEIN ANDRADE

Leia entrevista na íntegra em grosteinan­drade.blogfolha.uol.com.br

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