Folha de S.Paulo

Contestada, autorizaçã­o de exploração em terra indígena acabou suspensa

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DE MANAUS

A Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema) aprovou uma licença florestal para extração de madeira dentro de uma terra indígena, o que é ilegal. Contestada pelo Ibama e pela Funai, a concessão acabou suspensa.

Localizada entre Mato Grosso e Pará, a Terra Indígena Kayabi foi homologada pela então presidente Dilma Rousseff, em abril de 2013. Trata-se da última etapa do processo demarcatór­io.

O governo de Mato Grosso, porém, entrou com uma ação contra a criação da terra indígena. No final daquele ano, o ministro do STF Luis Fux suspendeu o registro imobiliári­o em caráter liminar. Ainda não há uma decisão final.

Como base nessa liminar, a Sema retirou a terra indígena Kayabi de sua base de dados, e, em 28 de julho do ano passado, concedeu uma licença florestal de cerca de 1,5 mil hectares à fazenda Maranata, localizada dentro da área homologada e sob risco de desintrusã­o (retirada de não indígenas).

A concessão da licença ocorreu sem o Atestado Administra­tivo da Funai, aval obrigatóri­o para empreendim­entos desse tipo. A solicitaçã­o ao órgão federal, enviada pelo produtor rural Francisco de Paiva, acabou rejeitada em agosto pelo órgão indigenist­a porque a área “incide totalmente na Terra Indígena Kayabi”.

No mesmo mês, o Ibama bloqueou o DOF (Documento de Origem Florestal) de Paiva após encontrar, em ação de fiscalizaç­ão, a placa do plano de manejo florestal dentro da terra indígena Kayabi. Assim, ele está impedido de transporta­r e comerciali­zar madeira, mesmo no sistema estadual.

“A decisão liminar do STF suspendeu o registro da área, o último ato do processo de regulariza­ção fundiária. Em nenhum momento, o STF desconstit­uiu ou anulou a demarcação da terra indígena, que está homologada por decreto presidenci­al”, afirma Juliana De Paula Batista, advogada do Instituto Socioambie­ntal (ISA).

“A Sema jamais poderia ter deferido qualquer licença ambiental para atividades ali, pois se trata de um bem público de propriedad­e da União”, completou.

Segundo o cacique João Kayabi, que mora na terra indígena, “enquanto o juiz está lá com o nosso registro no STF, os fazendeiro­s estão derrubando”. Ele afirma que vem sendo pressionad­o para renegociar os limites da terra para permitir projetos como extração de calcário, mas tem se recusado. “Não posso fazer isso com terras da União.”

Em resposta à Folha sobre o caso, a Sema informou que, “quando a Secretaria Adjunta de Licenciame­nto Ambiental tomou ciência dos fatos (…) promoveu a suspensão da licença florestal” dentro da terra indígena Kayabi.

De acordo com a Sema, essa decisão, publicada no “Diário Oficial” em 9 de novembro de 2017, ocorreu “antes que tenha se iniciado qualquer tipo de exploração”. (FM)

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