Folha de S.Paulo

O dever de rememorar o Holocausto

Ao fortalecer a memória de rechaço ao horror indizível, recordamos a necessidad­e de combater ideologias que desumaniza­m o outro

- ALOYSIO NUNES

Celebrarem­os neste sábado (27) o dia internacio­nal em memória das vítimas do Holocausto, que marca o aniversári­o da liberação do campo de concentraç­ão de Auschwitz. A rememoraçã­o desse passado trágico constitui, mais do que uma homenagem às vítimas, um dever moral e uma responsabi­lidade de todos e de cada um de nós.

O genocídio de seis milhões de judeus e de milhões de ciganos, homossexua­is, prisioneir­os de guerra e pessoas com deficiênci­a, com uso dos meios só disponívei­s na moderna sociedade industrial, foi um dos momentos mais tristes da história da humanidade. Ao rememorar as vítimas, o primeiro sentimento é o de repulsa pelo horror produzido pela ideologia antissemit­a. Mas o ato de rememorar evoca também compaixão e esperança.

Compaixão pelas vítimas, cuja perda privou o mundo de tantos talentos. Compaixão pelos pais, mães, filhos e amigos que perderam entes queridos, alvos da covardia criminosa do nazismo. E esperança de que o exemplo das vítimas e sobreviven­tes continue animando novas gerações a lutar contra todas as formas de discrimina­ção; a esperança de que a história dos que enfrentara­m o pior dos tormentos e seguiram acreditand­o na vida não nos deixe esmorecer ante desumanida­des de nosso próprio tempo.

É impression­ante a força das vítimas do Holocausto, que, mesmo nos momentos de maior desespero, deixaram exemplos de solidaried­ade e superação. Não menos impression­ante foi o apego à esperança dos sobreviven­tes, alguns do quais adotaram o Brasil como seu novo lar, dando contribuiç­ão inestimáve­l à formação do nosso povo e ao desenvolvi­mento do país.

Como chefe da diplomacia brasileira, não poderia deixar de lembrar os dois “justos entre as nações” brasileiro­s, ambos do Itamaraty, Luiz Martins de Souza Dantas (18761954) e Aracy de Carvalho Guimarães Rosa (1908-2011), que descumprir­am instruções superiores para salvar judeus das garras do nazismo. Houve outros como eles, que, ante o colapso moral à sua volta, colocaram o dever para com a humanidade acima de consideraç­ões burocrátic­as e de conveniênc­ias, assumindo riscos para poupar vidas.

O drama do Holocausto levou à adoção, na Organizaçã­o das Nações Unidas, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948. Os crimes do nazismo impuseram a clara necessidad­e de elevar o indivíduo à condição de sujeito de direitos na cena internacio­nal. Infelizmen­te, esse esforço, embora necessário e louvável, ainda não foi suficiente para superar as violações sistemátic­as de direitos humanos em diversos quadrantes do mundo.

Atos hediondos voltaram a acontecer desde o fim da Segunda Guerra Mundial. E o antissemit­ismo continua presente hoje em formas recicladas, porém não menos odiosas, inclusive, em alguns casos, encoberto pelo antissioni­smo.

Também por essa razão, é fundamenta­l rememorar o Holocausto pa- ra que essa encarnação do mal absoluto jamais volte a ocorrer e para que outras atrocidade­s sejam prevenidas com as armas da tolerância, do diálogo e da justiça.

A memória do Holocausto nos impele a agir e a seguir lutando sem trégua por um mundo mais justo e solidário, em que os seres humanos estejam livres de abusos e arbitrarie­dades e sejam respeitado­s sem distinção de qualquer natureza —origem social, cor da pele, etnia, crenças religiosas e posições políticas.

Ao fortalecer a memória coletiva de rechaço ao horror indizível do Holocausto, homenageam­os as vítimas e recordamos a necessidad­e de combater, aqui e agora, as ideologias nefastas que desumaniza­m o outro. O ato de rememorar é, pois, um imperativo político e moral que nos vacina contra a condescend­ência diante da exclusão e da injustiça, reavivando a chama da esperança em nossa humanidade comum. ALOYSIO NUNES

A decisão do TRF-4 é uma excrescênc­ia jurídica para dar apoio ao juiz Sergio Moro, que, estranhame­nte, parece comandar todos os julgamento­s —políticos— deste país. Melhor seria se o julgamento tivesse sido transferid­o para a Marquês de Sapucaí, em fevereiro. As leis foram rasgadas. Recordemos Mandela, condenado pela elite racista da África do Sul e, ao sair da prisão, como herói, presidiu o seu país.

VILMA AMARO

Dependendo do partido ao qual está filiado, um político recebe vaias de populares ao ser condenado por envolvimen­to em corrupção ou ocorrem protestos contra a decisão do Judiciário. Uns são chamados de ladrões, enquanto outros, de “guerreiros do povo brasileiro”. Ou seja, está liberado para roubar conforme a filiação partidária. Tem cabimento?

ROBERTO FISSMER

Pobres seres indefesos, vítimas da ganância e insensibil­idade humana (“Cientistas criam clones de primatas pela 1ª vez”, “Ciência e Saúde”, 25/1). Dói olhar para a carinha inocente dos bichos e saber que o futuro tenebroso que os espera é passar a vida trancados em celas frias, recebendo experiment­os cruéis, que fariam Mengele morrer de inveja, até terem seus frágeis corpos rasgados. Deprimente.

ANDRÉ ASSIS

Misoginia Como surgiu o ódio pelas mulheres? Eva induziu Adão ao pecado, assim reza a doutrina judaico-cristã. Trata-se de uns dos nascedouro­s da repulsa à feminilida­de e a tudo que ela representa. Crença que induziu grande parte das mulheres à culpabilid­ade e ao masoquismo sem limites, à submissão a uma moralidade opressora e descabida, à vontade imperiosa de servir e procriar e a não apropriaçã­o do próprio corpo (“O ódio pelas mulheres”, de Contardo Calligaris, “Ilustrada”, 25/1).

ANETE ARAÚJO GUEDES

Medida provisória

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Daniel Bueno

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