Velocidade imprudente
De acordo com dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) publicados por esta Folha, o número de mortes nas marginais Tietê e Pinheiros cresceu 23% em 2017, na comparação com o ano anterior. A cifra pode aumentar, pois a empresa municipal ainda analisa ocorrências referentes ao mês de dezembro.
Em termos absolutos, foram 32 casos fatais no ano passado, contra 26 em 2016. Esse resultado interrompe dois anos consecutivos de declínio dessa quantidade.
Basta observar o gráfico abaixo para constatar uma queda acentuada a partir de 2015, ano em que o então prefeito Fernando Haddad (PT) reduziu limites de velocidade nas marginais —que passaram a 70 km/h na via expressa, 60 na central e 50 na local.
A tendência inverteu-se no ano passado, quando os limites foram elevados pela gestão João Doria (PSDB), em cumprimento de pro- messa feita durante a campanha. O prefeito, como se sabe, adotou em sua propaganda política o sugestivo lema “Acelera São Paulo”.
Embora o tucano já tenha declarado que não tem “compromisso com o erro”, sua administração parece sempre disposta a tergiversar quando se trata de reconhecer as plausíveis conexões entre mudanças de velocidade e variações das estatísticas de morte.
Estudos internacionais já demonstraram tal relação, bem como as experiências em grandes cidades, caso de Nova York.
Em São Paulo, no entanto, a autoridade que deveria se preocupar com a segurança nas vias públicas prefere relativizar um nexo que, no mínimo, parece lógico.
Acrescente-se que a piora das estatísticas nas marginais contrasta com a queda de 7% do número total de mortes na capital paulista em 2017, apurada pela metodologia do governo estadual.
Os dados alarmantes sobre acidentes fatais no trânsito brasileiro apontam a necessidade de um esforço de educação de motoristas e pedestres, não de liberalidades que podem agravar a situação.
Infelizmente, conhecendo-se o grau de envolvimento do prefeito com a tese de que o aumento da velocidade permitida nas vias é questão secundária, parece pouco provável, a esta altura, um recuo em nome da prudência.