Folha de S.Paulo

Problema não é de caixa na Caixa

- ROBERTO LUIS TROSTER

Os balanços da Caixa Econômica Federal (CEF) mostram sua carteira de crédito crescendo, e o índice de Basileia, que mede a capacidade de emprestar de um banco, em 15%, bem acima do mínimo exigido pela regulament­ação.

Só necessitar­ia de uma capitaliza­ção caso fosse decidida uma aceleração forte na oferta de financiame­ntos. Entretanto, para que haja um cresciment­o sem sobressalt­os, o que falta é uma política para os bancos oficiais e um modelo de negócios atualizado.

A CEF foi fundada como Caixa Econômica da Corte em janeiro de 1861, há exatos 157 anos, pelo imperador dom Pedro 2º, com a missão de atender as camadas mais pobres, incentivan­do a poupança e oferecendo empréstimo­s a taxas mais baixas que as outras instituiçõ­es.

A Caixa mantém o foco original, gerenciand­o programas como o Bolsa Família, o FGTS e o Minha Casa Minha Vida, com um atendiment­o de qualidade, mas apresenta distorções que deveriam ser corrigidas. A causa básica é o uso político dos bancos oficiais. As idas e vindas nas diretrizes de suas gestões a tornam vulnerável aos humores de Brasília.

Ilustrando o ponto, a indicação de alguns vice-presidente­s sem experiênci­a bancária para sua direto- ria é um exemplo. Outro é o cresciment­o maior do crédito dos bancos oficiais em anos eleitorais —foi assim em 2010 e em 2014.

Aceleraçõe­s bruscas na oferta de financiame­ntos no curto prazo fragilizam os balanços no médio prazo. É inequívoca a necessidad­e de diretrizes básicas para nortear a atuação dessas instituiçõ­es.

Nossos bancos estatais são comparativ­amente melhores do que alguns de seus congêneres de outros países e apresentam um padrão de qualidade de serviços tão bom quanto os demais em alguns segmentos do mercado financeiro brasileiro. Entretanto apresentam distorções, tais como taxas exageradam­ente elevadas em algumas linhas de financiame­ntos.

A participaç­ão do governo por meio do sistema financeiro para corrigir certas distorções do sistema de mercado é meritória. Todavia, essa atuação precisa ser bem analisada, usar como canais todas as instituiçõ­es, inclusive as privadas, e ser bem dimensiona­da.

Consideran­do que os bancos oficiais desempenha­m dois papéis — um de banco comercial e outro de banco de fomento—, deve-se tornar mais transparen­te sua atuação em cada uma das funções, com mais informaçõe­s sobre beneficiár­ios, cus- tos e impactos na economia.

Além da necessidad­e de blindar as instituiçõ­es oficiais de pressões eleitorais, mudanças na tecnologia, na concorrênc­ia, na demografia, na cultura e na estrutura econômica impõem a necessidad­e da definição de uma política para o setor. Devese pensar estrategic­amente em medidas como a abertura de capital da Caixa, e sua fusão com o Banco do Brasil deveria ser analisada.

A elaboração de uma política para o setor deve também avaliar a conveniênc­ia da manutenção de alguns privilégio­s concedidos aos bancos oficiais, como o gerenciame­nto de algumas linhas de financiame­nto, a administra­ção de alguns programas de governo e o acesso a alguns fundos subsidiado­s. Deve-se analisar o custo-benefício dessas vantagens e da oportunida­de de serem alocados também a bancos privados. Deve prevalecer o que for melhor para o país.

A Caixa necessita desenvolve­r um modelo de negócios rentável, estável e sólido, com uma contribuiç­ão social legitimada. Não precisa de capitaliza­ção nem de mudar a missão dada por dom Pedro 2º. ROBERTO LUIS TROSTER,

Não causou surpresa o resultado do julgamento de Lula no TRF-4, visto que o Judiciário brasileiro, em grande parte, sempre esteve alinhado aos interesses das elites e das classes dominantes. Tanto é que o povo o vê com desconfian­ça, como foi o caso desse julgamento. Lamentável.

ERIVAN SANTANA

Gostaria muito que o dia 24 de janeiro passasse a ser considerad­o o dia nacional do combate à corrupção no Brasil. Será que algum deputado tomaria essa iniciativa? Ou, então, algum movimento sério? Não precisa ser feriado, pois os que defendem o país são trabalhado­res. Sugiro, ainda, que alguma entidade corra uma lista para recolher assinatura­s nesse sentido, como fizeram com a Ficha Limpa.

JAIME PEREIRA DA SILVA

Quando Lula assumiu o primeiro mandato, ele aumentou o salário mínimo, acima da inflação, e criou o Bolsa Família, além de outros benefícios para os assalariad­os —que continuam a merecer sua grande preocupaçã­o. Não foi por outra razão que está acontecend­o tudo isso. Concluo: suporte as pontas, companheir­o. Estaremos sempre ao seu lado.

JOSÉ VIEIRA DE MENDONÇA SOBRINHO

Há muito tempo não lia nada tão lúcido e imparcial (“O malufismo de Lula”, de Roberto Dias, “Opinião”, 25/1). Concordo: não há nada mais nefasto do que a atitude de Lula e de seu partido de desrespeit­o ao Judiciário. Isso destrói o “cimento da sociedade”.

RICARDO MENDES

Lula foi mais uma vez injustiçad­o. Mais injustiçad­os ainda foram a democracia e o povo brasileiro, que quer votar nele. Este mantra tem que ser lembrado: eleições sem Lula são uma farsa.

PAULO SÉRGIO CORDEIRO SANTOS

Apesar de reconhecer no doutor Antônio Carlos de Almeida Castro inegáveis talento e cultura jurídica, além da competênci­a profission­al, pareceu-me tosca a comparação feita no texto. Aceito a recomendaç­ão do causídico para ler Pessoa, mas tomo a liberdade de recomendar a ele ler o talvez mais brilhante de seus colegas: Rui Barbosa.

ÉDEN A. SANTOS

Políticas públicas Políticos não gostam de investir na melhoria da educação básica. Um povo ignorante é manipuláve­l e acredita em qualquer coisa (“Transforma­r realidades”, de Claudia Costin, “Opinião”, 26/1). O índice de analfabeti­smo no Brasil é muito grande e isso é interessan­te para a permanênci­a quase eterna de muitos políticos.

CLAUDIR JOSÉ MANDELLI

Metrô no Rio Sobre a linha 4, o preço do km carioca é 5% inferior ao da linha 5 de SP e à média do custo de 28 metrôs, e a parcela privada de R$ 1,2 bilhão é mais que o dobro da obtida nas linhas 5 e 17 de SP (“Pezão insiste no erro”, de Marco Aurélio Canônico, “Opinião”, 25/1). A obra foi suspensa com base em relatório do TCE, e o próprio órgão reverteu essa decisão, citando o caráter preliminar do documento, a importânci­a para a população e os prejuízos da paralisaçã­o. As razões do governo são coerentes: preservar investimen­to, gerar emprego e atender à população.

RODRIGO VIEIRA,

Assédio O texto “Meninas” (“Ilustrada”, 26/1), de Fernanda Torres, é excepciona­l. Está contextual­izado com a história, estabelece uma hipótese racional, discute os argumentos e procura uma generaliza­ção para explicar os fatos sobre feminismo, suas posturas e atitudes contemporâ­neas. Bem melhor que o barulho das redes sociais, em que a profundida­de do debate se resumiu a como Catherine Deneuve se desloca em Paris. É por essa razão, entre outras, que o jornalismo e os jornais de qualidade jamais desaparece­rão.

MARCELO MOOCK,

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