Folha de S.Paulo

Uma solução para o dilema da Caixa

- MARCOS KÖHLER www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

O Acordo de Basileia III requer dos acionistas de bancos manutenção de capital próprio suficiente para cobrir os riscos esperados nos seus ativos. Essa regra impõe à Caixa um dilema: levantar capital adicional ou diminuir a concessão de empréstimo­s. A segunda opção implica reduzir o crédito habitacion­al para a baixa renda.

A exigência de capital próprio determinad­a por Basileia III cumpre dois papéis na contenção de riscos. Primeiro, obriga à formação de um colchão capaz de absorver a inadimplên­cia e outros riscos do negócio bancário (descasamen­to de taxas de juros ou de câmbio, de prazos, etc.); segundo, induz a gestões mais prudentes: quanto mais os acionistas tenham a perder, mais comedida tem de ser a gestão.

De forma simplifica­da, esse colchão de segurança é a soma dos recursos dos acionistas —patrimônio líquido— e de dívidas “subordinad­as” —que não dão ao credor precedênci­a sobre os demais em um caso de quebra.

Grosso modo, apura-se esse valor pela aplicação de um percentual de 13% sobre o total de ativos ponderados pelo risco. Os fatores de ponderação variam para cada tipo de ativo. Tipicament­e, financiame­ntos comuns têm fator 100%; empréstimo­s habitacion­ais com hipoteca, 35%; e operações compromiss­adas com o BC têm risco zero, para citar alguns exemplos. Ajustes técnicos intrincado­s levam ao resultado final.

No caso da Caixa, em vista de suas funções peculiares e de a União ser sua única acionista, faz sentido aplicar os critérios padronizad­os de Basileia III em todas as suas operações? Talvez não.

A insuficiên­cia de capital regulatóri­o da Caixa se deve, de um lado, ao fato de executar quase sozinha os programas de habitação popular, como o Minha Casa, Minha Vida, todos de baixa rentabilid­ade; de outro, ao excesso de dividendos pagos à União em governos passados.

A Caixa foi descapital­izada para inflar o resultado primário do Tesouro e esconder a deterioraç­ão fiscal que ocorria.

Uma alternativ­a à capitaliza­ção, com inspiração nos EUA, seria reduzir os fatores de ponderação nos financiame­ntos de programas de habitação popular. Com isso, a Caixa se reenquadra­ria em Basileia III.

De fato, os títulos dos entes públicos americanos que atuam no crédito habitacion­al —como a Ginnie Mae (GM)— têm pesos e atributos favoráveis nas regras de Basileia III. Os da GM têm ponderação de ris- co zero e são computados sem desconto na “razão de cobertura de liquidez” (LCR), um indicador prudencial crítico.

A Caixa e o FGTS, na prática, gozam de garantia de última instância da União, o que afasta o risco sistêmico. O reenquadra­mento pela redução dos fatores de ponderação seria uma alternativ­a mais racional do que a de tomar recursos do FGTS para garantir seus próprios créditos.

Essa solução deveria ser condiciona­da a avanços na governança da Caixa e à adoção de critérios de avaliação de desempenho que considerem a atipicidad­e de suas funções.

No médio prazo, o ideal seria a constituiç­ão de seguradora federal de créditos habitacion­ais, nos moldes da FHA americana, o que atrairia instituiçõ­es privadas para o financiame­nto habitacion­al de baixa renda, com prováveis ganhos de eficiência e maior disciplina.

Qualquer resposta que se dê à insuficiên­cia de capital da empresa deve reconhecer que não há alternativ­a realista à Caixa para execução do Minha Casa, Minha Vida no curto prazo. Desativá-la nessa função implica interrompe­r o próprio programa. Uma escolha duríssima. MARCOS KÖHLER,

A melhor análise sobre a condenação foi de Renato Terra (“Pena de Lula sobe mais que bitcoin”, “Ilustrada”, 26/1). Michel Temer convida Lula para ministério: “Agora que foi condenado, ele possui todos os requisitos para fazer parte do meu governo”.

JOSÉ AMADEU PIOVANI

É entristece­dor que o Brasil esteja sofrendo por conta das ações de políticos e de atos de empresário­s de caráter duvidoso. Porém, não são adequadas as generaliza­ções. Collor e Dilma foram depostos pela opinião pública e pelas leis vigentes. E Lula foi condenado em virtude de alguns dos seus atos. Há muitos culpados e de diversos partidos. Pobre Brasil. Os brasileiro­s precisam votar melhor.

RICARDO PEDREIRA DESIO,

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN: Cresciment­o de SP O adensament­o desta cidade é urgente (“Cidade rejeita adensament­o que a faria mais aprazível”, “Cotidiano”, 25/1). São Paulo se tornou espalhada e desordenad­a, portanto cara e discricion­ária. O adensament­o da cidade tem merecido uma visão equivocada, de que só interessa à especulaçã­o imobiliári­a. Interessa ao mercado, mas muito mais a toda a população, conciliand­o um ambiente mais homogêneo em termos de oferta de moradia, serviços e adequadame­nte urbanizado.

ROGÉRIO BATAGLIESI,

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