Folha de S.Paulo

Agora partido, Farc apresenta plataforma

Força Alternativ­a Revolucion­ária do Comum busca vagas no Legislativ­o e terá candidato à Presidênci­a da Colômbia

- SYLVIA COLOMBO

Surgida após acordo de paz, legenda enfrenta ataques a antigos guerrilhei­ros e ceticismo estrangeir­o

A Força Alternativ­a Revolucion­ária do Comum, nome do partido criado a partir da desmobiliz­ação da guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia), realiza neste sábado (27), ao sul de Bogotá, o lançamento de seus candidatos para as eleições legislativ­as (11/3) e presidenci­ais (27/5), além de seu programa de propostas para a Colômbia.

A agremiação, que manteve a sigla da guerrilha, participar­á de uma eleição democrátic­a pela primeira vez depois de mais de cinco décadas de embate com o Estado.

Isso foi possível graças ao acordo de paz aprovado pelo Congresso colombiano no final de 2016. O tratado estabelece que a Farc possa concorrer à Presidênci­a e ao Parlamento, além de receber verba estatal para iniciar suas atividades. Caso os candidatos da legenda não consigam se eleger, o acordo prevê que ela receba cinco vagas extras na Câmara e cinco no Senado.

“Não só vamos conseguir eleger os dez pelo voto popular como também outros. Estamos muito otimistas”, disseà Folha o ex-membro do secretaria­do da guerrilha e atual pré-candidato à Câmara dos Deputados Carlos Antonio Lozada. Segundo ele, serão 23 candidatur­as ao Senado e 51 à Câmara.

Para a Presidênci­a, a Farc apresentar­á seu líder, Rodrigo “Timochenko” Londoño, recém-regressado ao país, após tratamento de saúde em Cuba. Outros integrante­s da cúpula da ex-guerrilha que pretendem disputar as eleições são Iván Márquez e Pablo Catatumbo.

O programa de governo terá como prioridade­s a criação de um sistema de renda básica para a população pobre e outro de capacitaçã­o de jovens recém-saídos da universida­de, além de apoio para a implementa­ção integral do acordo de paz.

No atual Congresso, a oposição ao governo de Juan Manuel Santos, encabeçada pelo ex-presidente Álvaro Uribe, hoje senador, vem colocando impediment­os para a aprovação de itens necessário­s à concretiza­ção do acordo.

Lozada crê que uma bancada da Farc pode acelerar o processo: “Precisamos combater o discurso da direita de que dar um voto para nós é levar a Colômbia para o caminho da Venezuela”. DIFICULDAD­ES O caminho, porém, não tem sido fácil para a ex-guerrilha. Houve resposta negativa de vários bancos a pedidos de abertura da conta em que seriam depositada­s doações para a campanha —o Banco Agrário acabou cedendo. A maioria temia ter problemas internacio­nais, uma vez que a Farc ainda figura na lista de grupos terrorista­s dos EUA.

Durante o governo de Barack Obama, Santos havia obtido a promessa de que, caso o acordo fosse aprovado, a Farc deixaria essa relação. Obama também havia destinado uma ajuda em dinheiro para a reconstruç­ão da infraestru­tura destruída pela guerra e para a reinserção dos excombaten­tes.

Já a administra­ção Trump impôs outros pré-requisitos para que os EUA mantivesse­m tal apoio. Trump exigiu que Santos retomasse a destruição da área de plantação de coca por fumigação aérea —algo que deixara de ser feito como parte das negociaçõe­s. HOMICÍDIOS Outra dificuldad­e que a Farc vem enfrentand­o são os assassinat­os de ex-combatente­s cometidos por ex-paramilita­res ou por bandos de criminosos (Bacrim), antigos inimigos da guerrilha.

Nas últimas semanas, as lideranças da Farc vêm chamando a atenção de Santos para o não cumpriment­o de um dos itens do acordo que garante a segurança física dos ex-combatente­s, agora desarmados. Até agora, foram mortos 36 ex-guerrilhei­ros e 13 de seus familiares.

A Farc lembra o ocorrido com o partido União Patriótica, nascido em 1985, quando o Estado entrou em acordo com algumas guerrilhas e lhes deu espaço na política. Desarmados, os ex-guerrilhei­ros foram quase todos mortos: dois candidatos à Presidênci­a, 20 congressis­tas, 11 prefeitos e mais de 3.000 militantes.

 ?? Fernando Vergara - 27.ago.2017/Associated Press ?? Rodrigo Londoño, o Timochenko, líder máximo da ex-guerrilha, deve ser o candidato da Farc à Presidênci­a da Colômbia; eleição ocorre em maio
Fernando Vergara - 27.ago.2017/Associated Press Rodrigo Londoño, o Timochenko, líder máximo da ex-guerrilha, deve ser o candidato da Farc à Presidênci­a da Colômbia; eleição ocorre em maio

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