Folha de S.Paulo

Alta do consumo impulsiona a arrecadaçã­o e o emprego

Recuperaçã­o da renda aquece comércio e alimenta retomada da economia

- LAÍS ALEGRETTI MAELI PRADO

Economista­s reforçam que fenômeno é comum após recessões agudas, como a vivida pelo Brasil nos últimos anos

Estimulado pela inflação baixa e pela liberação do FGTS, o consumo foi o motor da recuperaçã­o da economia brasileira no fim de 2017, compasso que deve se manter no início deste ano.

Esse comportame­nto pode ser identifica­do, segundo especialis­tas, nos resultados do emprego formal e da arrecadaçã­o de tributos divulgados nesta sexta-feira (26).

Eles ficaram próximos ao “zero a zero” no ano passado após dois anos de números muito negativos.

A arrecadaçã­o federal teve alta de 0,6%, descontada a inflação. Já o mercado de trabalho encerrou 2017 com um pequeno saldo negativo, conforme antecipou a Folha.

“Os sinais mostram que a massa salarial está crescendo acima da inflação. Isso vira consumo, bate no comércio e serviços, e a indústria vai atrás”, avaliou Hélio Zylberztaj­n, o professor da USP (Universida­de de São Paulo).

Enquanto o comércio foi o campeão de abertura de vagas formais, a indústria demitiu mais do que contratou.

“O setor que mais sofreu na crise foi a indústria. Também começou a se recuperar, mas está vindo mais lentamente”, disse Bruno Ottoni, do FGV Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Essa melhora também aparece na recuperaçã­o da arrecadaçã­o do governo com impostos ligados a consumo, como PIS/Cofins, cuja receita subiu 3,5% em 2017.

“PIS e Cofins tiveram um bom desempenho, quando olhamos para as empresas não financeira­s. Essa melhora pode ser atribuída a um bom desempenho do consumo”, afirma Vilma Pinto, pesquisado­ra da área de Economia Aplicada do Ibre/FGV.

José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, lembra que a recuperaçã­o pelo consumo se dá principalm­ente após graves recessões.

“Quando você vai para o fundo da recessão, a recuperaçã­o vem via consumo, porque

Comércio foi setor que mais gerou vaga com carteira em 2017

a capacidade ociosa está elevada. As empresas não investem porque já têm capacidade para produzir.”

José Márcio afirma ainda que, além da inflação baixa, que aumenta o poder de compra, a liberação dos recursos do FGTS impulsiono­u o consumo. “Foi um ganho de renda real substancia­l para as famílias.” Segundo ele, os dados mostram que a recessão não só acabou mas que o cresciment­o está acelerando.

Apesar de não haver dúvidas sobre a retomada, o economista André Perfeito, da Gradual Investimen­tos, afirma que vai demorar para o país voltar ao patamar précrise. “Os ajustes propostos pelo governo são de ordem recessiva. É difícil imaginar a economia crescendo muito com austeridad­e fiscal.”

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