Folha de S.Paulo

RÉPLICA Brasil precisa discutir ideias, e não de ódio

Secretário de Política Econômica no governo Dilma responde a críticas do colunista Alexandre Schwartsma­n

- MÁRCIO HOLLAND

FOLHA

É clara a divisão entre crítica de ideias e desrespeit­o humano. Alexandre Peter Pan Schwartsma­n (“Fiz, mas não fui eu”, (folha.com/ no1950864), pelo seu quadro psicológic­o, não sabe distinguir algo tão básico e, por isso, deve ser perdoado e tratado.

Como economista, é esperado o debate sobre o que realmente interessa à sociedade brasileira; sobre como vamos conduzir o país de volta ao caminho da criação de empregos e geração de renda, de modo sustentáve­l de longo prazo.

É compreensí­vel colocar a culpa da recessão atual na herança maldita de políticas econômicas recentes; mas a verdade é um pouco mais dura. O fato é que a economia brasileira exauriu seu modelo de cresciment­o. As regras do jogo do capitalism­o brasileiro precisam ser refundadas. O Brasil precisa enfrentar uma ampla e profunda agenda de reformas políticas, institucio­nais e econômicas.

A realpoliti­k nos ensina, contudo, que os governos adotam mix de políticas econômicas, algumas de efetividad­e duvidosa, outras tidas como boas práticas. Tem sido assim no governo Temer. De um lado, tem-se as boasnovas, como a regra do teto de gastos, a proposta de reforma da Previdênci­a, a reforma trabalhist­a e a flexibiliz­ação de critérios de conteúdo local, por exemplo.

De outro lado, um desavergon­hado jogo de toma lá dá cá já despendeu mais de R$ 60 bilhões do Orçamento em pleno ajuste fiscal, promoveu reajustes inadequado­s aos servidores públicos, aceitou renegociaç­ões de dívida com Estados sem contrapart­ida adequada e está discutindo a flexibiliz­ação de regra de ouro do Orçamento público.

Sua política fiscal tem sido expansioni­sta para si mesmo, mas já contratou austeridad­e e riscos de rupturas de regras fiscais fundamenta­is (como a do teto e a regra de ouro) para os próximos governos. Uma bomba-relógio foi instalada em meio à boas intenções.

Assim foi também no governo Dilma 1. Boas medidas econômicas se misturaram com gastos excessivos, especialme­nte em subsídios creditício­s e na expansão de alguns programas púbicos que se mostraram ineficient­es; adotou irresponsá­veis práticas de contabilid­ades criativas; intervençã­o voluntario­sa no setor de energia; ausência de agenda de políticas de comércio exterior etc.

Mas o mesmo governo Dilma 1 regulament­ou a Funpresp (previdênci­a dos servidores públicos), reformou a poupança —o que tem dado suporte ao Banco Central para atingir as atuais e celebradas baixas taxas de juros—, instituiu as comemorada­s debêntures incentivad­as (lei 12.431), e a LIG (letra imobiliári­a garantida) —que são instrument­os de grande importânci­a para o financiame­nto de longo prazo; instituiu o valor incontrove­rso para todas as operações de crédito, operaciona­lizou e expandiu o Programa Agricultur­a de Baixo Carbono etc. Ainda vale considerar as diversas medidas de consolidaç­ão fiscal contidas no ovacionado Plano Levy.

O governo Dilma teve claros traços de um governo de incompetên­cias, voluntaris­mo e equívocos. O governo Temer não passa no teste mínimo da ética e da integridad­e. O Brasil não precisa de nenhum dos dois! Ironicamen­te, critica-se o governo Dilma e aceita-se o governo Temer. Afinal, rouba, mas reforma.

Em vez de se imiscuir no ódio psicopátic­o, o Brasil precisa discutir ideias. Colocar na mesa o que deu errado e o que pode dar certo. Mais de 12 milhões de desemprega­dos e a pobreza crescente não têm tempo a perder. MÁRCIO HOLLAND

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