Folha de S.Paulo

Rus. O primeiro animal foi achado em outubro no Horto Florestal (zona norte).

- ANGELA PINHO

DE SÃO PAULO

Em meio ao aumento de casos e a filas para vacinação, o avanço da febre amarela em São Paulo deu início a uma troca de acusações entre a gestão Michel Temer (PMDB), o governo do Estado e a prefeitura da capital paulista.

Em entrevista à Folha ,o ministro da Saúde, Ricardo Barros, chamou de “lamentável” declaração do secretário municipal da Saúde de João Doria (PSDB), Wilson Pollara, e disse que a cidade só não recebeu mais doses da imunização porque não pediu.

Na terça (23), Pollara havia afirmado que o desafio da imunização na capital “é justamente a disponibil­ização de vacina pelo ministério”.

“Se tivéssemos todas as vacinas disponívei­s nesse exato momento, em dez dias só teríamos condições de vacinar a população inteira”, disse.

Barros rebateu a declaração do secretário e disse que caberia a Pollara ter pedido mais doses por meio de solicitaçã­o ao governo do Estado. “Não tem [vacina disponível para a cidade toda agora] porque ele não pediu”, afirmou.

“Ele não pediu porque ele não tem razão para pedir. Ele que converse com o secretário [estadual] David Uip e, se o secretário David Uip pedir para vacinar, nós poderemos conceder. Esse tipo de declaração é lamentável.”

Pollara não quis comentar a fala de Barros.

O ministro abriu ainda uma crise com a gestão Alckmin ao afirmar que o fracioname­nto da vacina contra a febre amarela só não começou antes porque o governo paulista não pediu.

A campanha com doses fracionada­s começou na quinta (25) no Rio e São Paulo, com confusão e filas. A meta é imunizar 20 milhões de pessoas em 77 municípios dos dois Estados , além da Bahia. A medida faz parte da estratégia de, diante de um estoque limitado, bloquear rapidament­e o avanço do vírus, no momento em que ele ronda as duas maiores cidades do país.

A capital paulista, por ora, não tem nenhum caso humano confirmado, mas já foram encontrado­s macacos com ví- ‘NÃO SOLICITOU’ Questionad­o por que só tomou a decisão de fracionar a vacina no início de janeiro, mais de um mês após esse episódio, Barros disse que “a vigilância do Estado de São Paulo não solicitou”. “Se tivesse nos solicitado, teríamos feito. Há um protocolo e uma técnica que devem ser seguidos e, sob esse protocolo, toda demanda que chega ao ministério é atendida”, afirmou.

A diretora do Centro de Vigilância Epidemioló­gica de SãoPaulo, Regiane de Paula, negou a informação e disse que, no primeiro semestre de 2017, o Estado já havia pedido vacinas para imunizar a população de todas as cidades até 2018 com doses plenas, e não fracionada­s e que o ministério respondeu que iria “avaliar” o pedido.

Segundo ela, quando ocorreu a morte do macaco no Horto, ela trabalhava com a informação de que havia quantas doses plenas fossem necessária­s.

Ainda de acordo com a diretora, neste momento, o primeiro lote de seringas para fracioname­nto só chegou a São Paulo em 12 de janeiro. “Mesmo que a capital tivesse hoje condições de aplicar mais doses que o previsto na campanha, neste momento o Ministério da Saúde não dispõe de seringas específica­s para o fracioname­nto.”

Em resposta à diretora, o ministério afirmou que “há um trabalho conjunto” para estender a vacinação a outras regiões de São Paulo. “Neste primeiro momento, estão sendo priorizado­s os corredores ecológicos próximos de locais onde houve casos de febre amarela em humanos e macacos ou aquelas regiões de potencial risco de circulação.”

Em relação às seringas, disse que foram encaminhad­as a partir de planejamen­to em dezembro e que há estoque para atender eventuais solicitaçõ­es de ampliação imediata de vacinação. “Quantitati­vos de seringas para novas etapas da imunização ainda serão discutidos.”

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Rivaldo Gomes/Folhapress Barros diz que cidade de SP só não tem mais vacina porque não pediu e que fala de secretário é lamentável Pessoas fazem fila para receber a vacina contra a febre amarela, em unidade básica de saúde, na zona sul de São Paulo

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