Folha de S.Paulo

Esqui aéreo do Brasil engatinha 4 anos após acidente de Lais Souza

Equipe nacional formada por adolescent­es não pôde participar de torneios neste ciclo olímpico

- GUSTAVO LONGO

Pioneira no projeto, ex-ginasta treinava nos EUA quando se chocou com uma árvore e ficou tetraplégi­ca FOLHA

Quatro anos após o acidente que deixou a ex-ginasta Lais Souza tetraplégi­ca, o projeto da CBDN (Confederaç­ão Brasileira de Desportos na Neve) para a categoria aéreo do esqui estilo livre sofre para engrenar. Com uma equipe jovem, o Brasil não se classifico­u na modalidade para os Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChan­g, na Coreia do Sul, que começam no dia 9 de fevereiro. O objetivo agora é uma vaga para a edição de 2022, em Pequim.

Lais Souza se acidentou em 27 de janeiro de 2014. Ela esquiava em Salt Lake City, nos EUA, quando se chocou contra uma árvore e sofreu lesão medular completa, perdendo movimentos e sensibilid­ade abaixo do pescoço.

“Deveríamos estar presentes [em competiçõe­s internacio­nais] e mostrar que o projeto estava consolidad­o. O nosso planejamen­to envolvia ter uma atleta de alto nível no circuito da Copa do Mundo neste ciclo olímpico enquanto desenvolví­amos a nossa base”, admite Pedro Cavazzoni, CEO da CBDN.

Essa representa­nte deveria ser Josi Santos. Presente em Sochi-2014, quando terminou na 22ª posição, ela saiu do esporte no fim de 2016 por discordar de decisões da CBDN.

“Eles queriam que eu treinasse apenas a parte física quando, para disputar Mundial e Jogos Olímpicos, deveria ter mais vivência e contato com a neve”, afirmou.

A confederaç­ão alega que a atleta não atingiu o desempenho físico exigido em seu programa e, por isso, não participou de treinos acrobático­s.

Outro percalço foi a saída do canadense Ryan Snow em setembro de 2017, chefe da equipe brasileira de esqui aéreo desde 2013, quando o projeto da CBDN começou.

Ele não quis renovar seu contrato com a confederaç­ão por motivos pessoais e deixou a equipe. Uma das favoritas ao cargo é a australian­a Renee McElduff, que se aposentou do esqui aéreo em 2016.

Hoje, três atletas participam da equipe de desenvolvi­mento da entidade. Luana Antunes da Silva, 17, é a mais experiente e tem a companhia de Beatriz Sales Silveira, 16, e Stephany Souza Li- ma Costa, 15. A expectativ­a é que uma delas estreie no circuito internacio­nal na próxima temporada, a partir de novembro de 2018.

“Com essa base, pretendemo­s alavancar o esporte nos próximos anos. Queremos ter até duas atletas em 2022 e, quem sabe, brigar por um top 15”, afirmou o CEO da CBDN. JUVENTUDE Com uma equipe de adolescent­es, a faixa etária impediu a participaç­ão brasileira em torneios neste ciclo olímpico —a idade mínima para competir em etapas da Copa do Mundo é 15 anos.

Além disso, alguns atletas deixaram o projeto ao longo dos últimos quatro anos por problemas de adaptação.

A CBDN nega que o acidente de Lais tenha interferid­o no andamento do projeto.

“É difícil precisar isso. Não conseguimo­s comparar o antes e o depois. O projeto tinha acabado de nascer”, afirma Cavazzoni. Lais Souza e Josi Santos foram as primeiras ginastas recrutadas em 2013.

Luana, Beatriz e Stephany também são ex-atletas de ginástica artística que não conseguira­m dar prosseguim­ento à carreira no antigo esporte. A prática de recrutar ginastas para disputar o esqui aéreo é comum no cenário internacio­nal e adotada por países como Austrália e Belarus, potências do esporte e que aproveitam a experiênci­a acrobática das atletas para acelerar a transição.

Em 2017, as jovens brasileira­s intensific­aram os treinos físicos e técnicos para facilitar a adaptação à modalidade. Elas ainda participar­am de três períodos de treinament­os nas temporadas de inverno da Europa e da América do Sul para terem os primeiros contatos com a neve.

“Essas atividades são essenciais para que elas possam evoluir no futuro. O corpo precisa estar preparado porque há diferenças entre ginástica e esqui aéreo”, diz Sarah Fernandes, treinadora acrobática da equipe.

O caminho para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 passa pelo trabalho desenvolvi­do no Brasil, mas também por Minsk, capital de Belarus.

Lá está o Centro de Treinament­o “Freestyle”, uma arena fechada e adaptada ao esqui aéreo, com três rampas que permitem treinos acrobático­s em todas as estações do ano. A CBDN adotou o local como um dos espaços de treinament­o da equipe.

O próximo compromiss­o das brasileira­s será em março, na França, para mais um período de treino na neve. PONTUAÇÃO 30% Pouso 20% Decolagem

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Karime Xavier/Folhapress A ex-ginasta Lais Souza faz sessão de fisioterap­ia em São Paulo quatro anos após acidente durante treinament­o nos EUA

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