Tem Sempre Razão?”], não sei se estão comprando por engano”, brinca o editor.
COLUNISTA DA FOLHA
Começou discretamente. A princípio, ninguém sabia bem de onde estavam vindo aqueles livros —os editores não eram conhecidos, fosse pelo mercadão livreiro fosse pelas casas independentes. De todo modo, o catálogo chamava a atenção pela qualidade, formado principalmente por obras fora do radar das grandes casas do país.
Novata no mercado e completando um ano de existência, a editora Âyiné já está com sua distribuição consolidada em livrarias. Ah, sim, o nome esquisito vem do persa, significa espelho e se pronuncia “ainé”.
A casa, que imprimia até bem recentemente seus livros em Veneza e os mandava para o Brasil, é dirigida por Pedro Daniel de Moura Fonseca, especialista em literatura persa que vive na Itália.
“Um amigo mandou uma mensagem dizendo ‘Esse pessoal é muito metido a besta com esse nome de editora em francês’, mas, bem, o nome é ainda mais metido a besta, porque é persa”, diz.
A editora estreou com a coleção Biblioteca Antagonista, uma parceria com o site conservador de mesmo nome. Sim, a seleção trazia grandes intelectuais do conservadorismo em edições bem acabadas, como Isaiah Berlin, Roger Scruton e Joseph Roth — mas também tem autores de esquerda, como Daniele Giglioli, com “Crítica da Vítima”.
“Esse começou a vender mais depois que saiu o do Francisco Bosco [“A Vítima BOOM CONSERVADOR A Biblioteca Antagonista também traz ensaios literários de autores como a russa Marina Tsvetáeva, Proust e Robert Musil, entre outros.
“Qualquer coisa bem escrita entra no catálogo. Mas é claro que não vou publicar um nazista”, diz Moura Fonseca.
“Nem a Biblioteca Antagonista é uma coleção só de direita, publicamos a Simone Weil. Com ela também temos o Michael Oakeshott, porque eu não entendia como, no meio do boom do conservadorismo, não se publicava o maior intelectual conservador do século 20.”
A Âyiné prepara para este ano uma coleção com intelectuais de esquerda, que contará com o livro “Melancolia de Esquerda”, do historiador italiano Enzo Traverso.
“Li ‘Os Caminhos da Esquerda’, do Ruy Fausto, e acho que a esquerda está precisando renovar. Mas, se há mesmo uma crise da esquerda mundial, há muita coisa boa sendo produzida. Um certo ramo da direita criou um fausto ideológico, ataca uma esquerda de muito tempo atrás, que não existe mais.”
A inspiração é a Adelphi, dirigida pelo escritor italiano Roberto Calasso —que fala da importância da casa editorial na Europa em “A Marca do Editor”, a sair pela Âyiné.
Além de Moura Fonseca, os italianos Simone Cristoforetti e Dhuane Fabbris e o brasileiro Fábio Saldanha são sócios da Âyiné, que até agora lança seus livros em formato de bolso. Os volumes são relativamente baratos, custando R$ 19, R$ 29 ou R$ 39.
A ideia é não ter edições de luxo. “Acho errado, em um país como Brasil, fazer livros de luxo. Podemos um dia fazer um ou outro, mas não como uma política de coleções. Não gosto de falar em intervenção, mas o editor tem o papel cultural de promover o debate”, diz o editor.
Originalmente, a ideia da Âyiné era só distribuir suas