Chile se despede de Nicanor Parra seguindo suas instruções
Poeta, morto na última terça (23), aos 103, deixou recomendações para funeral, que teve leitura de poemas e canções de seus irmãos
“De mediana estatura,/ com uma voz nem fina nem grossa,/ filho mais velho de um professor primário/ e de uma modista de loja;/ frágil de nascimento/ ainda que devoto da boa mesa;/ de faces esquálidas e bem abundantes orelhas;/ com um rosto quadrado/ com que os olhos se abrem apenas/ e um nariz de boxeador mulato/ desce à boca de ídolo asteca/ —tudo isto banhado/ por uma luz entre irônica e pérfida—,/ nem muito liso nem parvo no remate/ fui o que fui: uma mescla/ de vinagre e de azeite de comer/um embutido de anjo e besta!”
O poema “Epitáfio” (1969) —traduzido acima pelo poeta gaúcho Carlos Nejar— foi uma das obras de Nicanor Parra lembradas ao longo de seu velório, na Catedral de Santiago, na quinta-feira (25).
O escritor, morto na terça (23), aos 103, havia deixado várias recomendações para a cerimônia, em manuscritos entregues a seus familiares.
Elas diziam respeito a como e com que objetos queria ser enterrado. O caixão foi, então, coberto com uma manta tecida por sua mãe e escolhida por ele, e um recado, escrito num pedaço de papel: “Vou e volto”.
Uma das orientações, porém, não foi fácil de cumprir. no pátio de sua casa, em frente ao mar.
Antes disso, porém, houve uma despedida final, por parte de seus vizinhos na localidade, e com a presença de um conjunto musical.
A presidente Bachelet foi uma das que entoaram uma das canções escolhidas por Parra para sua festa fúnebre, a “cueca” (gênero musical), “Los Parecidos”, de Roberto Parra (1921-1995), também irmão do poeta.