Folha de S.Paulo

Aos 85 anos, morre em São Paulo ator Oswaldo Loureiro

- ROGÉRIO GENTILE GUILHERME SETO

A brasileira Carla McEwen recebeu em 19 dezembro do ano passado uma notícia que a deixou “aterroriza­da” e “desmoraliz­ada”.

Naquele dia, a Justiça americana cassou os seus direitos maternos, retirando-lhe a guarda física e legal de seu filho de 13 anos.

Mais do que isso, determinou que ela somente poderia ver o garoto na presença de representa­nte da Corte de Família do Estado da Califórnia —o que, desde então, ocorreu apenas três vezes, em encontros de uma hora de duração.

“Fui tratada como uma bandida”, diz Carla, que mora nos Estados Unidos desde 1998 e é professora da California­WesternSch­oolofLaw.

A razão, afirma ela, é uma só. “Sou vítima de preconceit­o por ser brasileira.”

Carla conta que, na audiência, o juiz David B. Oberholtze­r e os funcionári­os da Corte a trataram com extremo desdém. “O juiz ria da minha cara e fingia não entender o que eu dizia devido ao meu sotaque”, afirma.

A professora lembra que a escrivã ficava levantando a sobrancelh­a, com cara de desprezo, enquanto ouvia sua defesa. De acordo com a brasileira, o guarda que acompanhou a audiência fechou a porta em sua cara quando ela ia passar.

“Já o meu ex-marido foi tratado sempre de uma forma muito gentil. O guarda até bateu continênci­a para ele.”

Carla foi casada com o escritor Scott McEwen, que ficou famoso por ser um dos autores do livro “American Sniper”, que deu origem a um filme do mesmo nome, de 2014, dirigido por Clint Eastwood e protagoniz­ado pelo ator Bradley Cooper.

Escreveu também o livro “American Commander”, com o republican­o Ryan Zynke, secretário do Interior do governo Donald Trump e excomandan­te dos SEALs, grupo de elite da Marinha.

Nasredesso­ciais,Scottcostu­ma postar mensagens de exaltação ao presidente Donald Trump e se refere aos po- líticos democratas como “DemoRats” —algo como “demoratos”, em tradução livre.

Carla diz que se separou de Scott após vários episódios de violência doméstica. “Ele chutouamin­habarrigaq­uando estava grávida.”

A professora afirma que, por falta de suporte financeiro, foi obrigada a se defender em causa própria perante a corte americana, sem um advogado americano. “Sou uma boa mãe, não aceito essa decisão”, disse à Folha.

Em janeiro, Carla relatou seu caso para o advogado Ricardo Sayeg, presidente da Comissão de Direitos Humanos do Instituto dos Advogados de São Paulo, que conhecera em Paris, em um evento na Universida­de Sorbonne.

Sayeg colheu seu depoimento nos EUA, na presença de DeAnn M. Salcido, juíza aposentada da mesma Corte do Estado da Califórnia.

Escutou também o depoimento de duas outras mulheres, uma mexicana e uma alemã, que relataram terem perdido a guarda de seus filhos sem justa causa e que, assim como a professora brasileira, atribuem a decisão ao fato de serem estrangeir­as.

“Os elementos colhidos dão sustentaçã­o à reclamação da dra. Carla McEwen de que há um padrão de violação dos direitos humanos por parte da Corte de Família da Califórnia, promovendo-se grave discrimina­ção de mães estrangeir­as”, escreveu Sayeg em seu relatório.

O presidente da comissão de direitos humanos disse também que a Justiça da Califórnia submeteu a professora a uma “humilhação” ao determinar que ela só possa ver seu filho na presença de um preposto da corte, “como se fosse uma pessoa dotada de distúrbios psicológic­os, drogada ou criminosa”.

A juíza aposentada Salcido referendou a conclusão, afirmando que “as práticas comuns da Corte da Califórnia resultam em violações crônicas ao devido processo legal” e que o caso de Carla “é a mais recente encarnação deste abuso generaliza­do dos direitos humanos”.

O relatório foi aprovado no dia 23 de janeiro pelos demais membros da comissão (Leandro Sanchez Ramos, Gisele Soares, Eveline Gonçalves e Rodrigo Venturole) e foi encaminhad­o para a Comissão Interameri­cana de Direitos Humanos, em Washington. NOVA AUDIÊNCIA A Folha procurou na última quarta-feira (31) o juiz David B. Oberholtze­r para ouvilo sobre a acusação de preconceit­o e violação aos direitos humanos. O magistrado, no entanto, não respondeu às solicitaçõ­es de entrevista.

No dia seguinte, em nova audiência, Oberholtze­r revogou a decisão que obrigava Carla a ter contato com seu filho apenas na presença de um preposto da Justiça.

“Durante a audiência, o juiz me entregou cópia das questões formuladas pela Folha. Era outra pessoa, até cumpriment­ou a minha mãe”, afirma a professora.

Um novo julgamento foi marcado para o mês de março. Até lá, a professora Carla poderá ver seu filho uma vez por semana e a cada 15 dias, aos finais de semana.

A reportagem procurou também o escritor Scott McEwen a fim de ouvir a sua versão sobre o caso, mas até a noite de sexta-feira (2) ele não havia enviado resposta. DE SÃO PAULO - O ator, que fez mais de 20 novelas da Globo, como“Mandala”(1987)e“Que Rei Sou Eu?” (1989), tinha Alzheimer e estava no hospital São Luiz, no Morumbi, onde teve parada cardíaca neste sábado (3), informou Claudia Loureiro de Brito, sua filha.

A última novela de que participou na emissora foi “A Lua Me Disse” (2005), como o deputado Boaventura.

Nascido em 1932 no Rio, numa família de artistas, começou a carreira em 1944, no cinema, mas dizia que seu meio de expressão era o teatro.

Fez mais de 140 peças, desde sua primeira atuação profission­al nos palcos, aos 23, com “Vestido de Noiva”. Dirigiu peças e esteve à frente do teatro Guaíra, em Curitiba. Engajado, foi dirigente sindical nos anos 1980, chegando a presidente do Sindicato dos Artistas do Rio de Janeiro.

Seu corpo foi cremado na tarde do próprio sábado (3). Ele deixa a viúva, Madalena Loureiro, filhos e netos.

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Apu Gomes/Folhapress Carla era casada com o escritor Scott McEwen (‘Sniper Americano’) e o acusa de agressão; ele não respondeu à Folha A brasileira Carla McEwen, que perdeu a guarda do filho na Justiça da Califórnia e diz ter sido vítima de preconceit­o
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Divulgação O escritor Scott McEwen, ex-marido de Carla McEwen

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