Folha de S.Paulo

Meu primeiro Palmeiras x Santos

- JUCA KFOURI COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

ERA JANEIRO de 1960 e o Paulista de 1959 ainda não havia acabado.

Palmeiras e Santos tinham terminado o torneio empatados com 63 pontos em 38 jogos, numa época em que cada vitória dava dois pontos.

Houve então o que ficou conhecido como o “Supercampe­onato Paulista”. Quem fizesse quatro pontos seria o campeão.

Os dois primeiros jogos terminaram empatados, 1 a 1 e 2 a 2. Aliás, o empate inicial deu margem a comentário­s sobre uma possível marmelada, porque forçava o terceiro jogo. Bobagem, é claro. Não vi, só li, sobre tais jogos, disputados no meio da semana.

O terceiro, no domingo, no Pacaembu lotado, passou na televisão e foi inesquecív­el.

Pelé abriu o marcador, com passe do centroavan­te Pagão, um finíssimo atacante que compunha o trio dos “Pês” —Pagão, Pelé e Pepe.

O Santos que tinha também Zito, Dorval e Jair Rosa Pinto, encaminhav­a seu quarto título em cinco anos, campeão de 1955/56 e 1958.

Mas ainda no primeiro tempo, Julinho Botelho, que recentemen­te havia voltado ao Brasil depois de virar ídolo em Florença, empatou.

Desses lances tenho memória nebulosa, talvez mais de ler do que ver.

Mas o segundo gol, o que deu o título ao time alviverde, marcado por Romero numa magistral cobrança de falta logo no começo do segundo tempo, guardo até hoje na retina. Indefensáv­el.

Havia oito anos que o Palmeiras não festejava a conquista do Estadual e aquele único triunfo na década prenunciav­a que a seguinte seria espetacula­r pelo duelo de alviverdes e praianos.

Porque só os dois dividiram a taça nos anos 1960.

Com verdadeiro espírito de porco, o Palmeiras impediu o tetracampe­onato de Pelé e companhia, em 1963, e o tri, em 1966.

A Academia verde era o único rival a desafiar de igual para igual aquele que foi o melhor time do mundo, já com Mengálvio no lugar de Jair e o fabuloso Coutinho no de Pagão.

Pelé sempre disse que Coutinho era melhor que ele dentro da área, tão bom e frio como depois viriam a ser Reinaldo, do Galo, e Romário.

Palmeiras x Santos era promessa de um recital de futebol, jogos para serem vistos de joelhos.

Tamanha rivalidade andou sendo reavivada nos últimos tempos e um dos responsáve­is foi o então santista, que hoje enfrenta o ex-time pela primeira vez, Lucas Lima.

Basta como atração já que não teremos mais a volta de Gabriel ao ataque alvinegro.

Lucas Lima está jogando o fino da bola e Gabriel começaria sua busca para apagar o insucesso da temporada na Europa, quando se deu mal na Inter de Milão e no Benfica.

Ainda sem o ótimo Bruno Henrique, o Santos entra frágil em campo.

Os anfitriões são os favoritos não apenas por jogar em casa, mas por serem melhores.

Os visitantes têm a chance de uma improvável vitória restabelec­er a autoestima.

A coluna aposta no Palmeiras e dá dois gols de vantagem porque, além da já citada superiorid­ade verde, alguma coisa sugere uma tarde digna dos velhos tempos.

Tempos que Jairzinho, o pai de Jair Ventura, o técnico do time alvinegro, viveu intensamen­te, mas com a camisa do Botafogo, o outro rival à altura do Santos nos anos 1950/1960, embora sem lhe tomar as taças como o Palmeiras.

O clássico de hoje já foi o melhor jogo do futebol paulista. E por pelo menos dez anos consecutiv­os

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