Folha de S.Paulo

Avanço informal

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Fechado o balanço do mercado de trabalho em 2017, os resultados podem ser considerad­os favoráveis —ao menos na comparação com as tragédias precedente­s.

A criação de 1,8 milhão de novas vagas, ainda que em grande parte associada a ocupações informais, e o aumento da renda marcam uma mudança de direção em relação aos piores momentos da recessão do período 2014-16.

O caminho a percorrer, contudo, é enorme. O número de desemprega­dos em dezembro do ano passado, 13,2 milhões de pessoas, é quase o dobro do existente ao final de 2014, no pico da ocupação no país.

Desde então, as perdas se concentrar­am nos empregos com carteira assinada. A desocupaçã­o castigou com especial rigor os segmentos mais frágeis —os jovens e menos escolariza­dos.

Mesmo em 2017, na presença de algum cresciment­o da economia, 685 mil postos formais foram fechados. Enquanto isso, em razão da informalid­ade, a Previdênci­a perdeu 1,1 milhão de contribuin­tes, outra faceta deletéria do processo.

Foi nesse contexto de inseguranç­a e fragilidad­e que entrou em vigor a reforma trabalhist­a, em novembro, criando novas modalida- des de contrataçã­o mais flexíveis, como o trabalho em tempo parcial e o intermiten­te, e abrindo maior espaço para negociação coletiva.

A expectativ­a é que tais mudanças facilitem a geração de novos empregos com direitos assegurado­s. Com poucas semanas de vigência das novas regras, foram abertos 5.641 postos na modalidade intermiten­te, concentrad­os justamente nas categorias normalment­e mais vulnerávei­s.

Apesar da polêmica que cercou a aprovação da reforma e do risco de que venha a trazer fragilizaç­ão de empregos, algo que demandaria correções, é forçoso constatar que o statu quo tampouco se mostra aceitável —há 11,1 milhões de trabalhado­res na informalid­ade (excluindo os domésticos) e 23,2 milhões por conta própria, no mais das vezes em condições precárias.

Combinados, tais contingent­es superam os 33,3 milhões de empregados com carteira assinada, conforme as normas da CLT.

Ainda é cedo, por certo, para avaliar os impactos da reforma. A chance de que uma quantidade maior de trabalhado­res tenha acesso a direitos até agora na prática inacessíve­is é razão suficiente para colocá-la em prática.

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