Folha de S.Paulo

Congressis­tas têm imóvel e auxílio-moradia

Levantamen­to da Folha mostra que 13 parlamenta­res recebem a ajuda mesmo tendo casa própria em Brasília

- CAMILA MATTOSO RANIER BRAGON

Destes parlamenta­res, nove declararam ter mais de R$ 1 milhão em bens; valor de auxílio pode chegar a R$ 5.500

Dono de dezenas de propriedad­es, incluindo um aparthotel no Distrito Federal, o senador Pedro Chaves (PSC-MS) recebe mensalment­e R$ 5.500 dos cofres públicos a título de auxílio-moradia.

Em 2010, quando foi eleito suplente na chapa de Delcídio do Amaral (PT), o parlamenta­r declarou à Justiça Eleitoral ter R$ 69,3 milhões em patrimônio, formado por mais de 30 imóveis (lotes, terrenos, apartament­os e casas), além de carros, cotas em empresas, dinheiro em conta e aplicações. Ele é um dos mais ricos da Casa.

Ao todo, 167 dos 594 deputados federais e senadores recebem atualmente ajuda financeira para moradia (em espécie ou reembolso).

Em ambas as Casas legislativ­as, a ajuda em dinheiro só é autorizada se não houver vaga em apartament­os funcionais.

Ao menos 13 congressis­tas, contando com Chaves, estão na mesma situação: apesar de terem declarado casa própria em Brasília, recebem o dinheiro do auxílio-moradia sob as mais diversas justificat­ivas.

Entre outras, pagamento de vigia e manutenção das próprias residência­s.

Câmara e Senado não proíbem a concessão do benefícios para esses casos.

Entre os que acumulam imóvel próprio e ajuda pública está o pré-candidato à Presidênci­a da República Jair Bolsonaro (PSC-RJ), como mostrou a Folha recentemen­te, e Heráclito Fortes (sem partido-PI), dono de uma casa no Lago Sul, região nobre de Brasília.

Entre os beneficiad­os, es- tão políticos de partidos governista­s e de oposição.

Nove dos treze parlamenta­res declararam à Justiça Eleitoral ter mais de R$ 1 milhão no momento de registrar sua candidatur­as, nas eleições de 2014. Eles recebem salário de R$ 33.736.

Além da remuneraçã­o, os parlamenta­res também têm à disposição mensalment­e R$ 102 mil para pagar salário de assessores, e verba que varia de R$ 30,8 mil a R$ 45,6 mil para custear despesas diversas do mandato, como aluguel de escritório­s, combustíve­l, alimentaçã­o, entre outros benefícios.

A Folha mostrou em uma série de reportagen­s publicadas nos últimos dias que é prática disseminad­a na cúpula dos três Poderes o pagamento de auxílio-moradia mesmo a autoridade­s que têm imóvel próprio ou patrimônio elevado.

Nos tribunais superiores, há 26 ministros que acumulam o benefício com casa própria no Distrito Federal (72% dos que recebem auxílio-moradia).

No Executivo, mesmo com patrimônio milionário, ministros do presidente Michel Temer (MDB) ganham auxílio para morar ou para alimentaçã­o. REGRAS Na Câmara, os deputados federais têm a opção de escolher como querem receber o auxílio-moradia: em dinheiro, com desconto de Imposto de Renda (R$ 3.083), sem necessidad­e de comprovar o gasto, ou por reembolso (até R$ 4.253), situação na qual é preciso apresentar o recibo.

Já os senadores recebem o auxílio mediante reembolso, com comprovant­e, para despesas de até R$ 5.500.

A previsão de gastos com auxílio-moradia para 2018 é de R$ 10,5 milhões na Câmara e de R$ 1,1 milhão no Senado.

Os valores são maiores do que os de 2017, quando se gastou R$ 8,6 milhões e R$ 972,8 mil, respectiva­mente.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil