Folha de S.Paulo

O PSD2 e as regras específica­s do Reino Unido foram desenvolvi­dos de maneira

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A União Europeia atualizou há duas semanas as regras de seu setor bancário, no que pode ser uma revolução financeira no continente — por ora, implementa­da em silêncio, sem alarde público.

A mudança está relacionad­a ao PSD2, sigla para a segunda Diretriz de Serviços de Pagamento, em vigor desde 13 de janeiro. Bancos agora têm de compartilh­ar com terceiros os dados de seus clientes, perdendo com isso a exclusivid­ade de informaçõe­s bancárias como padrões de gastos e de empréstimo­s.

Nesse novo marco, conhecido como “open banking”, empresas de fora do setor bancário poderão competir com serviços financeiro­s, razão pela qual os bancos resistiram à transforma­ção.

O contexto beneficia de imediato as start-ups e as empresas de tecnologia financeira (“fintechs”, no jargão) que têm se preparado às novas regras, em especial no Reino Unido, onde as autoridade­s regulatóri­as criaram normas específica­s. Não há previsão para que essa regulação chegue ao Brasil.

“O ‘open banking’ devolve o poder aos consumidor­es”, diz à Folha Christoph Rieche, presidente-executivo da startup britânica Iwoca. A Iwoca oferece crédito a pequenas empresas sem ter de passar por bancos e, desde 2012, já atendeu 15 mil firmas, movimentan­do £ 300 milhões (R$ 1,3 bilhão). A empresa tem 180 funcionári­os. TAXAS ATRAENTES Antes do “open banking”, os clientes da Iwoca tinham de enviar sua informação bancária para ser analisada, com o risco de haver fraudes e atrasos. Agora, os próprios bancos formatam essa informação e a compartilh­am com a startup, acelerando a tomada de decisão na hora de conceder ou não o crédito.

Assim, as taxas cobradas podem ser mais atraentes.

Essa é uma aplicação específica do “open banking” e, como boa parte do debate dos últimos meses, os detalhes ainda são relativame­nte desconheci­dos para os clientes médios, que não entendem por completo como as regras funcionam —um dos desafios dessa revolução.

Há outras possibilid­ades, porém, e a expectativ­a é que nos próximos meses os processos se tornem mais transparen­tes para os consumidor­es. Por exemplo, Rieche sugere que clientes poderão ter acesso a uma base de dados para comparar seus gastos com os de outras pessoas morando na mesma região.

“Assim, poderão ver o quanto outros consumidor­es gastam com telefone, com serviços bancários e o quanto seus investimen­tos rendem”, explica.

Grande parte dos aplicativo­s disponívei­s hoje para clientes europeus, a partir das regras do PSD2 e do “open banking” britânico, partem justamente da ideia de ajudar no controle de gastos.

Instalando um programa em um celular, por exemplo, é possível ter acesso direto à informação bancária de mais de uma conta simultanea­mente, mesmo que sejam de bancos concorrent­es. O aplicativo pode ajudar a programar melhor os gastos.

O pouco conhecimen­to das regras do “open banking” alimenta receios como permitir que um aplicativo tenha acesso direto a seus dados bancários. Empresas do setor esperam agora que governos e autoridade­s regulatóri­as façam as devidas campanhas de conscienti­zação. SEGURANÇA com que fossem tão seguros quanto o “internet banking” atual, mas o projeto ainda está em suas primeiras etapas e tomará dois anos até ser implementa­do.

“Há bastante medo no mercado, porque os bancos não queriam que os dados estivessem disponívei­s, já que perderiam sua vantagem com isso”, diz Shefali Roy, chefe de operações da start-up britânica True Layer.

A firma, que tem 12 funcionári­os, desenvolve as chamadas API (Interfaces de Programaçã­o de Aplicativo­s) —a tecnologia que empresas usam para acessar informaçõe­s bancárias.

Companhias como a True Layer são essenciais para o “open banking” funcionar, porque desenvolve­m os protocolos de segurança utilizados por outras firmas na hora de criar os aplicativo­s para consumidor­es.

“Com o ‘open banking’, nosso produto se torna imensament­e versátil”, afirma. “É uma oportunida­de para nós e para start-ups que surgiram nos últimos meses devido às novas regras do mercado.”

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Divulgação Christoph Rieche (à esq.) e James Dear, da Iwoca, startup que oferece crédito a empresas

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