MULTIDÃO E ROLEZINHO
Foliões lotaram desfiles de blocos no Ibirapuera, na Faria Lima e no centro; em Pinheiros, teve funk e pouco samba
Um mar de gente no Ibirapuera diante do Monobloco. Mais um na Faria Lima para o Gambiarra. Outro mar de foliões na região central de São Paulo para o tradicional Acadêmicos do Baixo Augusta.
Assim como no sábado (3), o domingo (4) de pré-Carnaval teve multidões nas ruas da cidade e, também, um clima de rolezinho na região de Pinheiros, na zona oeste.
Que tiro foi esse?, gritava um grupo de amigos a cada menina que desembarcava na estação Faria Lima do metrô. A barricada da paquera foi montada estrategicamente ao lado de ambulantes que também aproveitam os que acabavam de chegar por ali.
Lá pela quinta tentativa, para delírio dos amigos, um dos garotos conseguiu um beijo de uma garota com tiara de dio abinho. “É Carnaval, mas está parecendo mais rolezinho”, disse Anderson Moreira, 21, que saiu do Grajaú, na periferia da zona sul, para curtir o Carnaval da zona oeste.
No trajeto entre a estação de metrô e a avenida Pedroso de Morais, quase nada lembrava o clima dos blocos de Carnaval que rodaram pela cidade neste final de semana. Caixas de som, em versões menores penduradas no pescoço ou mais potentes posicionadas no asfalto, só tocavam batidas de funk. Nada de marchinhas e muito menos axé, por exemplo.
Lojas de artigos eletrônicos e até um cabeleireiro que ficam a poucos metros da saída do metrô ajudavam com o clima de rolezinho e atraíam grupos com caixas de som, tocando o mesmo ritmo em volume bem alto. Em frente, eles instalaram isopores com gelo para vender bebida. No salão de cabeleireiro, uma placa avisava que era preciso pagar R$ 5 para usar o banheiro. PASSARELA DO ÁLCOOL A concentração de ambulantes transformou a avenida em uma “passarela do álcool” e era preciso vencer a concorrência no grito. “Catuaba, a bebida do amor. Pegou, bebeu, transou”, gritava um deles. Apesar de oferecerem mais cerveja e uma mistura de vodca em lata, os clientes zanzavam de um lado para o outro com garrafas de vodca e energéticos coloridos.
Um grupo de meninas adolescentes rebolava até o chão com copos de bebida nas mãos. Ao lado delas, o funk saía de uma caixa de som gigante levada por Elcio Silva, 23. “Eu que montei [a caixa]. Ontem [sábado] fiquei até meia-noite aqui. Não adianta, o povo prefere funk”, disse.
A estudante Rebeca Rodrigues, 18, foi para Pinheiros com as amigas de Perus, na zona norte, em busca dos bloquinhos, mas só encontraram rodinhas de funk.
“Sábado viemos no bloco Casa Comigo e estava mais legal. Agora aqui está mais para um rolezinho mesmo”, disse ela. “Lá no meu bairro só vai ter Carnaval no próximo fim de semana, por isso viemos para cá mesmo.”
Com o filho pequeno vestido de Batman, a dona de casa Cira Barbosa, 22, se frustrou ao chegar no largo da Batata e não encontrar confete nem serpentina. “Não precisa ser Carnaval para eles fazerem essa bagunça.” POLÍTICA No centro, sob o tema “É Proibido Proibir”, o Acadêmicos do Baixo Augusta fez um o desfile foi marcado por discursos políticos. No chão, um boneco de Olinda do bloco estava com uma camiseta com a frase “Fervo também é luta”. Em cima do trio, a cantora Leci Brandão intercalava versos de músicas com palavras contra o racismo e a homofobia. Em cima do bloco, puxador, Wilson Simoninha, instigava o público a gritar “fora, Temer”.
No chão, o público com grande presença LGBT bebia, dançava e se divertia. O casal formado pelo químico Jean Sousa, 34, e o professor Christopher Lockhart, 44, vem há dois anos para o bloco. Americano, Christopher diz que adora o clima de festa.
O grupo de amigas comandado pela aposentada Maria Margarida, 72, veio de Santo André para ver o desfile. “Escolhemos pela televisão e também pela facilidade de acesso”, contam. Gostaram da agitação, mas acharam que o bloco demorou muito para sair.
Já o engenheiro químico João Salmazo, 27, não teve uma experiência muito alegre. Teve os óculos quebrados em uma tentativa de assalto no bloco. “Não foi o que eu esperava”, disse.