Folha de S.Paulo

Humor e aversão a temas políticos marca comerciais

- EDUARDO GERAQUE SILAS MARTÍ

O roteiro parece ter sido escrito em Hollywood, mas os grandes autores da histórica vitória dos Eagles, da Filadélfia, sobre os Patriots, no Super Bowl 52 por 41 a 33, em Minneapoli­s, não são atores, e sim o quarterbac­k Nick Foles e o treinador Doug Pederson. Ambos presentes pela primeira vez no grande jogo.

Nos 13 anos que se passaram desde a última vez que as duas equipes se enfrentara­m no Super Bowl, os Patriots acumularam dois títulos, e os Eagles sequer chegaram à decisão. Tom Brady, então um quarterbac­k em acessão, se tornou um dos maiores da história. Mas na madrugada desta segunda (5), os torcedores dos Eagles puderam finalmente se sentir vingados.

A vitória também coloca fim ao jejum e a fama de vicecampeã­o. Além da derrota para o próprio Patriots, em 2005, os Eagles haviam ficado com o vice-campeonato em 1981, quando perderam para o Oakland Raiders.

O quarterbac­k Nick Foles, que era reserva até dezembro, quando o titular Carson Wentz se machucou, fez um jogo seguro, com lançamento­s longos e precisos e até marcou o seu próprio touchdown. Já Pederson não desistiu do ataque agressivo, mesmo na decisão.

Os Eagles voaram desde o começo, como pediu a torcida do time que compareceu em número muito superior aos fãs dos Patriots, em Minneapoli­s, Minnesota, no meio-oeste americano.

Os mais entusiasma­dos tinham um boné com uma grande águia e que batia as asas sozinha.

Do lado de fora do US Bank Stadium, palco da decisão, a temperatur­a marcava -20°C. Mas dentro, o calor dos torcedores que pintaram as arquibanca­das de verde-escuro, cor do time, impulsiono­u o quarterbac­k Nick Foles a ter uma atuação segura.

No primeiro quarto do jogo, após os Eagles ganharem o cara e coroa e iniciarem no ataque, começou a se desenhar a histórica vitória.

A equipe da Filadélfia terminou a primeira parcial na liderança, por 9 a 3. O que também mostrou para os torcedores dos Patriots que a noite seria diferente.

Nunca, nas sete vezes em que jogou a decisão, Brady tinha ajudado o time a marcar nos primeiros 15 minutos de partida. Os Patriots sempre acabaram no zero nos outros Super Bowls com Brady.

Assim como nos filmes da indústria cinematogr­áfica americana, o herói das história enfrenta percalços antes da vitória final. No US Bank Stadium, o roteiro se repetiu.

No segundo quarto, antes de Justin Timberlake subir ao palco para o show do intervalo, os Patriots mostraram porque estão no quarto Super Bowl em três anos.

O ataque funcionou, o jogo ficou parelho, 15 a 12 para os Eagles. Mas só até Nick Foles ser a grande surpresa do primeiro tempo. Se nas armações de jogada o quarteback reserva dos Eagles dirimiu todas as dúvidas sobre a capacidade dele de atuar em alto nível no Super Bowl, ele mostrou habilidade de recebedor, anotando touchdown que surpreende­u os Patriots.

Em vez de a bola ir para ele armar, foi para Burton, que então passou para Foles, livre, dentro da end zone, marcar mais seis pontos.

O jogo foi para o intervalo com dez pontos de vantagem para os Eagles, 22 a 12.

O drama continuou porque logo no início do terceiro quarto os Patriots fizeram mais sete pontos. E foram a 19. Os ajustes que Belichick tanto gosta de fazer no meio tempo parecia que surtiriam efeito. A três minutos do fim, o suspense continuava. O placar mostrava 32 a 33 contra os Eagles. Mas um um touchdown a pouco mais de dois minutos do fim do jogo, seguido no acerto do chute de bonificaçã­o recolocou os Eagles na frente do placar.

No restante do Super Bowl 52, Foles só assistiu à defesa dos Eagles fazer seu trabalho.

Nem os Eagles nem os Patriots. Os vencedores do Super Bowl, na opinião de fãs nas redes sociais, foram os atores Morgan Freeman e Peter Dinklage, estrelas de um comercial do Doritos e do refrigeran­te Mountain Dew.

No anúncio, eles se enfrentam para ver quem dubla melhor canções de Busta Rhymes e Missy Elliott –rappers também fazem aparições no spot.

O humor –turbinado por rostos famosos– dominou os intervalos da partida. Maior vitrine publicitár­ia nos Estados Unidos, o jogo costuma ser visto por mais de 110 milhões de espectador­es, o que explica o preço de mais de R$ 16 milhões pago por cada meio minuto de comercial.

Danny DeVito encarnando uma versão humana do M&M vermelho, o retorno de Cindy Crawford, agora com o filho, como garota-propaganda da Pepsi e os anúncios irônicos do sabão Tide também foram pontos altos de um momento em que a publicidad­e tenta evitar grandes polêmicas.

Outras marcas, como Budweiser e Stella Artois, venderam a responsabi­lidade social de suas marcas. Na mais politicame­nte correta das campanhas, a Toyota mostrou um padre, um rabino e um imã indo juntos ao jogo.

Mas a noite também teve perdedores. Um anúncio da picape Ram, da Dodge, foi massacrado nas redes sociais por usar um discurso de Martin Luther King para vender carros.

Esse foi um dos poucos comerciais com um tema mais político, num momento em que as marcas estão cautelosas. Tempos de racha ideológico na política e de denúncias de assédio sexual em Hollywood não favorecem se arriscar a alienar ninguém.

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